Cuidados na rotina do mastologista no cenário Covid – 19

Desde seu aparecimento na China, em dezembro de 2019, a pandemia de Covid-19 mudou a rotina da humanidade. Nesses meses em que o coronavírus se alastrou,  repercussões dramáticas ocorreram em diversas partes do mundo, com reflexo direto nos serviços de saúde. A adaptação a essa emergência demandou uma reorganização dos cuidados, com consequências diretas nos atendimentos ambulatoriais e cirurgias eletivas. Estes, muitas vezes, foram postergados ou cancelados.

A Sociedade Brasileira de Mastologia acompanha com muita atenção os relatórios epidemiológicos e entende que a pandemia de Covid-19 não apresenta o mesmo padrão de distribuição nas diversas regiões do Brasil. Por isso, a conduta oncológica deve ser ajustada de acordo com a realidade local, considerando riscos e demandas. Algumas regiões estão retomando suas atividades ambulatoriais e cirúrgicas que exigem agora cuidados especiais adicionais.

Baseada na NOTA TÉCNICA GVIMS/GGTES/ANVISA Nº 06/2020, nas orientações da Sociedade Brasileira de Infectologia e da Associação Brasileira dos Profissionais em Controle de Infecções e Epidemiologia Hospitalar, a SBM recomenda alguns cuidados adicionais na rotina de atividade do médico mastologista.

 

Cuidados para atendimento de consultório aos pacientes assintomáticos:

Cuidados relacionados ao ambiente:

– Higienizar todo ambiente com álcool 70%.

– Toda equipe de atendimento deverá utilizar máscara cirúrgica.

Cuidados relacionados aos pacientes:

– Realizar uma triagem prévia, inicialmente por telefone, e depois no momento de chegada da(o) paciente, em relação ao seu  estado de saúde e queixas gripais específicas.

– Organizar um intervalo entre as consultas para que não haja aglomerações.

– Desestimular a presença de acompanhantes sempre que possível.

– Solicitar o uso de máscaras.

– Oferecer álcool gel na entrada e na saída do consultório.

– Realizar a limpeza de todos os locais de contato do paciente, com álcool 70%, entre uma consulta e outra.

 Cuidados para o médico:

– Utilizar máscara cirúrgica (máscaras de pano não são consideradas EPIs e não devem ser utilizadas por profissionais de saúde em trabalho).

– Utilizar roupa privativa.

– Realizar lavagem das mãos ou limpeza com álcool gel antes e depois de examinar um paciente e sempre entre consultas.

– Não remover a máscara até o final dos atendimentos.

– Em caso de se fazer necessária oroscopia, recomeda-se o uso de face shield.

– Em procedimentos ambulatoriais como punções e biópsias em pacientes assintomáticos recomenda-se o uso de máscaras cirúrgicas pelo médico e pelo paciente sendo que o médico só removerá seu EPI após o término do atendimento ao último paciente.

 

Cuidados para atendimento de consultório para pacientes sintomáticos:

O paciente sintomático deve ser triado, sempre que possível, por ferramentas de atendimento a distância, para avaliar a necessidade urgente de uma consulta presencial. Caso seja possível postergar o atendimento presencial, recomenda-se esperar 7 dias a partir do desaparecimento dos sintomas.

Caso não seja possível aguardar o término dos sintomas, o atendimento deverá ocorrer no último horário disponível, sendo necessário o uso de máscara cirúrgica pelo paciente e EPI completo pelo médico assistente (máscara N95 ou PFF2, gorro, avental cirúrgico impermeável, luvas, óculos e face shield) considerando os protocolos para paramentação e desparamentação.

 

Cuidados para procedimentos cirúrgicos em pacientes assintomáticos:

 Cuidados para o paciente:

– Utilizar máscara cirúrgica em todo o trajeto do hospital.

Cuidados para equipe médica:

Para cirurgia sem risco de aerossolização*

– Gorro

– Máscara cirúrgica

– Protetor facial ou óculos

– Avental cirúrgico

– Luvas estéreis

Para cirurgia com risco de aerossolização*

– Gorro

– Máscara N95/PFF2 ou equivalente

– Protetor facial

– Avental cirúrgico (impermeável)

– Luvas estéreis

* São consideradas cirurgias ou procedimentos com potencial risco para aerossolização com partículas infectantes: intubação orotraqueal; cirurgias de cavidade oral, faringe, laringe e tórax; cirurgias abdominais abertas ou laparoscópicas. Demais EPIs podem ser necessários considerando o quadro clínico e o diagnóstico do paciente.

 

Cuidados para procedimentos cirúrgicos em pacientes sintomáticos:

Pacientes sintomáticos devem ter sua cirurgia adiada por no mínimo 7 dias do final dos sintomas, a não ser em casos de extrema urgência.

Na impossibilidade de adiamento, o paciente deverá permanecer com máscara cirúrgica a todo o momento e a equipe médica com paramento completo (máscara N95 ou PFF2, gorro, protetor facial, óculos, avental cirúrgico impermeável e luvas estéreis).

Em um estudo recente, pacientes com Covid-19 submetidos a procedimentos cirúrgicos apresentaram maior morbimortalidade no período pós-operatório, sendo que a análise demonstrou que 44,1% dos pacientes necessitaram de UTI e a taxa de mortalidade após admissão na UTI foi de 20,5% (Lei S. et col, 2020). Esses dados geraram muita polêmica em relação a procedimentos cirúrgicos neste período, mas vale lembrar que esse artigo chinês avaliou diversos tipos de cirurgias em muitos pacientes com comorbidades. Não há na literatura dados sobre cirurgias mamárias ou estruturas superficiais exclusivamente. Contudo, toda cirurgia deve ser avaliada e indicada cautelosamente considerando os potenciais riscos envolvidos.

Testagem de pacientes para avaliação pré-operatória

 Não há consenso para realização de teste como rotina pré-operatória do paciente assintomático no cenário da pandemia de Covid 19. Com a facilidade de obtenção de testes PCR por aumento da oferta no mercado, há uma tendência dessa rotina ser incorporada na prática clínica.

A SBM ressalta a importância de seguir as normas no manejo de pacientes oncológicos em tempos de Covid-19, respeitando as características locais, os recursos disponíveis, e as recomendações institucionais.

 

Dr. Vilmar Marques de Oliveira

Presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia

 

Dr. Antonio Luiz Frasson

Presidente do Conselho Deliberativo SBM

 

Dra. Paula Cristina Saab

Presidente Departamento de Comunicação SBM