Até a divulgação desta pesquisa realizada no Brasil, os estudos sobre câncer de mama associavam, predominantemente, a síndrome metabólica à obesidade
Estudo inédito, realizado recentemente no Brasil, revela que mulheres com câncer de mama, não obesas e na pós-menopausa têm riscos aumentados para síndrome metabólica, hipertensão e diabetes. Realizada com 130 pacientes de 45 a 75 anos, em estadios I, II e III da doença, a pesquisa compara um número igual de mulheres nas mesmas condições, porém sem o diagnóstico de câncer. De acordo com o mastologista Daniel Buttros, do Departamento de Políticas Públicas da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), os resultados do estudo evidenciam a importância da avaliação da saúde metabólica das mulheres com câncer de mama. “Independentemente do índice de massa corporal, a pesquisa representa um alerta e indica que as pacientes precisam receber cuidados adequados e individualizados”, destaca o médico.
A dissertação de mestrado “Perfil metabólico de mulheres não obesas com câncer de mama na pós-menopausa”, apresentada pelo médico Pedro Paulo Perroni da Silva Filho, na Faculdade de Medicina da Universidade Estadual Paulista (Unesp), tem o mérito de avaliar de forma inédita a saúde metabólica de pacientes não obesas com câncer de mama na pós-menopausa. “A maior incidência de síndrome metabólica ocorre, de fato, em pacientes obesas. Mas o estudo realizado agora demonstra que mulheres não obesas, embora em menor proporção, também têm uma situação agravada”, observa Daniel Buttros, mastologista da SBM e coorientador do trabalho.
Em 1999, a Organização Mundial de Saúde (OMS) propôs a primeira definição para a síndrome metabólica, considerando o conjunto de fatores de risco para doença cardiovascular, entre os seguintes critérios: elevação da pressão arterial, aumento de triglicerídeos, redução do HDL colesterol, obesidade (índice de massa corpórea >30kg/m2) ou aumento da relação cintura/quadril, e resistência insulínica definida pela presença de diabetes tipo II ou intolerância à glicose ou hiperinsulinemia. Em 2001, o US National Cholesterol Education Program: Adult Treatment Panel III (NCEP-ATP III) desenvolveu outra definição diagnóstica, que incluiu alguns dos critérios propostos pela OMS e excluiu o índice de massa corpórea (IMC), a relação cintura-quadril e a resistência insulínica.
No estudo apresentado na Unesp, tanto no grupo de estudo, composto por 130 pacientes com câncer de mama, não obesas e na pós-menopausa, quanto no grupo de controle, com o mesmo número de mulheres, as mesmas características e sem o diagnóstico da doença, foram consideradas com síndrome metabólica as participantes que apresentaram três ou mais indicativos: circunferência de cintura maior que 88cm, triglicerídeos maior ou igual a 150 mg/dL, HDL colesterol menor que 50 mg/dL, pressão arterial maior ou igual a 130/85 mmHg e glicose maior ou igual a 100 mg/dL.
“Entre as mulheres com câncer de mama não obesas, observamos maiores médias nos valores de pressão sistólica e diastólica e de glicemia, na comparação ao grupo de controle”, afirma Buttros. Na avaliação dos fatores que influenciam o perfil metabólico, o mastologista da SBM destaca maior ocorrência de síndrome metabólica e de elevação da pressão arterial entre as pacientes. “Também constatamos valores acima dos desejáveis de colesterol total e glicemia”, pontua.
Os resultados do estudo, segundo o especialista, representam um alerta, à medida que sinalizam a necessidade de acompanhamento e cuidados condizentes com a realidade de cada paciente.
Para o especialista, a evolução nos tratamentos oncológicos vem contribuindo para melhorar as taxas de sobrevida e a expectativa de vida entre as mulheres com diagnóstico de câncer. “Como aprimoramento, também devemos considerar avanços no entendimento entre o perfil metabólico e o câncer de mama, como descrito no estudo inédito realizado no Brasil”, ressalta. “Acredita-se hoje que um perfil de risco metabólico seja não somente um dos fatores de risco modificáveis para o desenvolvimento de câncer de mama, mas também um ponto importante para o desfecho oncológico e a sobrevida global”, finaliza Daniel Buttros.