Médica da SBM (foto acima) fala sobre transgêneros e câncer de mama

Annamaria Massahud*

O termo “câncer de mama” é frequentemente associado apenas à população feminina, mas a neoplasia atinge outros grupos como os homens, por exemplo, representando 1% dos casos, conforme o Instituto Nacional do Câncer (INCA). Apesar de as mulheres cisgêneros serem as mais acometidas pela doença, com mais de 65 mil novos diagnósticos ao ano, é preciso lembrar que o câncer de mama também atinge a população transgênero.

Um estudo observacional do University Medical Center, em Amsterdam, publicado em 2019, envolvendo 2.260 mulheres trans e 1.229 homens trans, apontou 15 casos de câncer de mama em mulheres trans, após uma média de 18 anos de tratamento hormonal e demonstrou um risco maior que a população masculina cis. Na população de homens trans, 4 casos foram detectados, média menor que o esperado para mulheres cisgênero.

O estudo revelou que o risco geral de câncer de mama em pessoas trans permanece baixo e, portanto, parece suficiente que pessoas transgênero sigam as diretrizes de triagem, iguais às indicadas para pessoas cisgênero.

As mulheres trans podem ser tratadas com estrogênio para feminização e agentes com atividade antiandrogênica, como a espironolactona, para suprimir a testosterona. Aproximadamente 60% delas procuram cirurgia de aumento de mama. Já, os homens transgêneros podem ser tratados com testosterona, gel ou implante para masculinização, elegendo a cirurgia para criar um contorno torácico masculino.

Embora o risco de câncer de mama reduza significativamente após cirurgia mamária no homem trans, ainda assim, os exames clínicos anuais ainda são recomendados para pessoas com 50 anos ou mais.

Nos casos de homens trans com alto risco de câncer de mama, a American Cancer Society recomenda exames anuais, a partir dos 30 anos. Alto risco é definido como aqueles com risco de vida superior a 20%, incluindo quem tem mutações nos genes BRCA1 e BRCA2, bem como não foi testado, mas tem um filho, irmão ou pai com mutação BRCA identificada.

Os médicos e pacientes devem se engajar em discussões sobre os riscos do excesso de exames e a avaliação dos fatores de risco individuais e hereditários. As mulheres transexuais têm uma alta prevalência de mamas densas, um risco para o câncer de mama e também um preditor de aumento das taxas de mamografias falsamente negativas.

É indiscutível a necessidade de ações, no Sistema Único de Saúde (SUS), promotoras de uma educação continuada para os profissionais de saúde e que conscientizem a população transgênero sobre a prevenção e tratamento do câncer de mama.

*Annamaria Massahud, presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia – Regional Minas Gerais

 

Fonte: Estadão