Mulheres entrevistadas desconhecem os verdadeiros fatores de risco para o desenvolvimento da doença, o que chamou atenção dos mastologistas
Informações distorcidas, medo do diagnóstico, dificuldades de acesso. Estes foram os principais resultados identificados no primeiro levantamento realizado pela Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), em parceria com a Libbs Farmacêutica, para entender o conhecimento, atitude e prática das mulheres brasileiras em relação ao câncer de mama. O estudo feito através de um questionário disponível na internet mostrou que praticamente todas já ouviram falar sobre a doença, porém a maioria acredita que o histórico familiar (95,7%) é o principal fator de risco para o seu desenvolvimento. Isso é preocupante, já que apenas 10% a 20% dos casos são hereditários ou têm uma história familiar próxima, ou seja, 80% não têm história familiar. Portanto, o risco pode ser subestimado nesta população, que deixa de fazer a prevenção porque acha que está protegida. Esses e outros dados comprovam a necessidade de ampliação não só de conscientização sobre a doença, mas de orientação para a população.
De acordo com Antônio Frasson, coordenador do estudo e presidente do Conselho Deliberativo da Sociedade Brasileira de Mastologia, o objetivo foi exatamente ter uma amostra da visão da mulher que tem acesso à internet e que se dispõe a participar de uma pesquisa como esta sobre o câncer de mama, uma das doenças que mais impacta não só as mulheres brasileiras como as de todas as partes do mundo. “Alertar sobre ausência de fatores de risco precisos e disseminar informação qualificada é sempre uma preocupação de todos nós mastologistas da SBM. Em nossos consultórios, somos surpreendidos com casos de pacientes jovens ou sem qualquer fator de risco específico na maioria das vezes. Por isso, pensamos em ouvir a opinião do público em geral sobre sua percepção a respeito do câncer de mama, permitindo que a mulher exponha o que entende sobre este assunto”, afirma o mastologista.
Na semana em que se comemora o Dia Nacional da Mamografia, ele lembra que este exame foi o mais mencionado (82,6% das entrevistadas) na pesquisa quando a questão é a detecção da doença, entretanto 59,3% das mulheres ouvidas afirmaram acreditar que o autoexame é a melhor forma de identificar um tumor. “Este é um motivo de preocupação, esperar que um tumor seja palpável significa dar um longo tempo de desenvolvimento que poderia ser encurtado através do diagnóstico de uma lesão não palpável”, afirma ele.
A pesquisa mostrou que a maioria das entrevistadas (90,1%) realiza exames para a detecção do câncer de mama incentivadas pelo aconselhamento médico (69,4%), por medo de desenvolver a doença (53,2%) e devido a casos de câncer na família (34,9%). Embora tenham informado que a mamografia é o melhor exame para identificar a doença, apenas 46,2% realizaram 1 vez ao ano (o mais recomendável pelos mastologistas) e 27% nunca realizaram. Já as barreiras para as mulheres não realizarem os exames foram: dificuldade de acesso (64,9%), medo de encontrar anormalidades (54,5%), falta de conhecimento sobre as técnicas de detecção (54%), longo tempo para conseguirem uma consulta (45,6%) ou experiências negativas em relação ao tema (34,2%), entre outras.
A pesquisa ouviu 3.768 mulheres entre 18 e 82 anos (sendo a média 42 anos) de todas as regiões do país – 390 (10,4%) do Centro-Oeste; 427 (11,3%) do Norte; 624 (16,6%) do Nordeste; 1.110 (29,5%) do Sul e 1.217 (32,3%) do Sudeste. Os dados apontaram que as mulheres detêm conhecimento sobre o câncer de mama, mas sem dúvida, ainda carecem de informações, essencialmente sobre a importância e a melhor forma do diagnóstico precoce (tumores menores de 1cm), que pode significar até 95% de chance de cura. Hoje, os tumores avançados ainda representam cerca de 60% dos casos diagnosticados, aumentando a possibilidade de metástase, mutilação (mastectomia), entre outras complicações.
Para Frasson, a disseminação da informação e a conscientização sobre o diagnóstico precoce são fundamentais para que as mulheres se cuidem preventivamente. “Ainda há desconhecimento e certa confusão sobre como detectar a doença e como proceder em relação ao tratamento. Há também o medo de realizar a mamografia por causa da compressão realizada sobre as mamas e possível dor decorrente disso ou até mesmo pelo medo do diagnóstico. “O fato é que as mulheres precisam entender a importância de estarem atentas ao diagnóstico precoce, terem acesso aos exames de imagem e realizá-los, buscarem atendimento frente a quaisquer anormalidades e terem este atendimento disponível. Somente com estas estratégias é que conseguiremos diminuir o número de casos avançados que exigem tratamentos mais agressivos e resultam em menos possibilidades de cura”, explica o médico.
A pesquisa mostrou também que a fonte mais citada para informação sobre câncer de mama é de médicos e profissionais de saúde (80,3% do total), seguido de internet (77,8% do total) e livros/revistas (41,1%). “Na era digital, o risco de desinformação é grande. Há uma grande responsabilidade não apenas em passar informações com qualidade e de uma forma precisa, mas também lutar para que a possibilidade de atendimento seja de fácil acesso. Somente com estes avanços e que poderemos melhorar este quadro”, afirma ele.
Por outro lado, é lamentável o fato de que o autoexame, que deveria ser utilizado apenas como autoconhecimento do corpo, desponte na pesquisa como forma de detecção para 59,3% das entrevistadas. Para elas, ele serve para identificar sinais de alerta, como caroços (97,9%), secreções (72,7%), alterações da forma (65,1%), dor (62,8%), deformações (60,7%) e vermelhidão (59,4%). “O fato de as mulheres citarem o autoexame como forma de prevenção acende um sinal de alerta porque parece que elas estão protegidas. É preciso esclarecer que isso não é o ideal. Portanto, esta pesquisa nos ajudará a definir estratégias que possam melhorar nossa comunicação com a população e atingir melhores resultados”, conclui Frasson.