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A tomossíntese (TMS) é a evolução da mamografia digital (MD), com benefícios clínicos incontestáveis. Nela, a mama é visualizada em cortes sucessivos reduzindo os efeitos da sobreposição tecidual, permitindo a detecção de cânceres invasivos em estágio inicial ocultos na MD [1]. A partir desses cortes, é possível reconstruir a mamografia sintetizada 2D (s2D) [2,3], mantendo os benefícios clínicos: diminuição da taxa de reconvocação (TR) e falso positivos (FP) e melhora da taxa de detecção do câncer (TDC) em 40% em comparação com a MD [1-18]. É recomendada pelas principais entidades internacionais e nacionais [19-25] e utilizada em programas de rastreamento na Itália, Noruega, Alemanha e EUA [2,3,5,11,13,16,18].
Em 2018, foi negada a incorporação da TMS na saúde suplementar (SS). Não havia estudos econômicos, definição de população alvo e poucas evidências científicas. A Unimed Brasil apresentou um cálculo de impacto orçamentário (IO) baseado em valores não praticados (irreais) [26].
O atual ATS da TMS + s2D submetido pelo CBR, com apoio da SBM e FEBRASGO, responde as demandas de 2018 [26]. Foi utilizado a CBHPM [27] e a D-TISS [28] (mundo real). A proposta da TMS+s2D está de acordo com a regulamentação da ANS para o rastreamento com MD (mulheres >40 anos) e refere-se a SS. No Brasil, 40% das pacientes com câncer de mama estão abaixo dos 50 anos [29] e não merecem ser abandonadas.
O Ministério da Saúde tem recomendação ultrapassada (2015) [30] contrária a TMS. O INCA realiza TMS desde 2017 [31] e adquiriu duas posteriormente [32].
A TMS + s2D reduz a dose de radiação e substitui a MD com resultados clínicos superiores confirmados em meta-análises [2,3,11,17 e 18]. A TMS + s2D apresenta dose glandular média de radiação inferior ao limite de qualidade e segurança nacional (ANVISA) para MD [33].
Na nossa meta-análise, a TDC da TMS + s2D foi de 1,35 (RR, p<0,001), a taxa de detecção de câncer invasivo (TDCI) foi de 1,48 (RR, p<0,001), a TR foi de 0,81 (RR, p=0,028) e a taxa de biópsia (TB) foi 0,89 (RR, p=0,303) quando comparada a MD, concordante com a literatura [17,34].
A TMS é custo-efetiva (CE) em vários países devido a maior TDCI em estádios iniciais, redução de exames adicionais, maior valor preditivo positivo (VPP) do que a MD e redução dos custos de tratamento [35-40].
A TMS ainda não reduziu a mortalidade por câncer de mama em ensaios clínicos randomizados. Esses dados levam 20 anos para serem adquiridos. Modelos econômicos devem determinar a viabilidade de tecnologias recentes [41,42]. Nossos resultados indicam que para mulheres de 40 a 69 anos com mamas com áreas de densidade fibroglandulares esparsas e heterogeneamente densas (BI-RADS B e C), o rastreamento com TMS +s2D em comparação com MD é CE para a SS reduzindo os custos por paciente. Esses dados são concordantes com a literatura [34-40]. A TMS [38-40] é CE em níveis de limiares de intenção de pagar (LIP) inferiores a R$ 106.000,00. O LIP para o SUS é R$ 37.100,00 [43]. Portanto, essa é uma suposição muito conservadora.
A cobertura mamográfica para a população alvo na SS é de 58,1% [44]. A economia gerada pela TMS+s2D poderia ser usada para aumentar a cobertura. A TMS+s2D e MD requerem infraestrutura semelhante (estação de trabalho, monitores específicos e software). Couto HL at al [34] analisaram impacto orçamentário (IO) (incluindo market share) com resultados favoráveis a incorporação.
A ANS e FENASAÚDE ignoram o benefício clínico (detecção precoce e redução do custo relacionados à estágios avançados) da TMS no IO além de utilizar a CBHPM (mundo irreal). Os custos com cirurgia e tratamento foram levados em consideração (árvore decisória + Markov, material dossiê e publicação de Couto HL, at al [34]).
A ANS deve incorporar a TMS+s2D no rastreamento do câncer de mama para mulheres com áreas de densidades fibroglandulares esparsas e mamas heterogeneamente densas (padrão B e C). O documento completo com referências nos sites do CBR/FEBRASGO/SBM.
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