A Sociedade Brasileira de Mastologia vem se posicionar a respeito das recentes publicações jornalísticas sobre o aumento do risco de câncer de mama em mulheres usuárias de dispositivo intrauterino (DIU) com levonorgestrel (DIU hormonal).
Estas matérias foram baseadas numa publicação científica no Jornal da Associação Norte-Americana de Medicina (JAMA), do mês de agosto/2024. A pesquisa, de autoria de Lina Steinrud Mørch, analisou dados retrospectivos de um grupo de mulheres dinamarquesas que usava este dispositivo e foram comparados com outro grupo que não usou.
Este estudo mostrou aumento do risco relativo de 80% em mulheres que usaram o DIU hormonal por 10 anos ou mais.
Importante ressaltar que a publicação foi uma carta ao editor, tipo de publicação mais simples. Além disso, trata-se de um estudo retrospectivo com nível de qualidade moderada, logo, podem existir variáveis de confusão que possam causar interpretações erradas nos números.
O estudo não traz dados novos, corroborando outra publicação da mesma autora que mostrou discreto aumento do câncer de mama em mulheres que usavam qualquer tipo de anticoncepcionais hormonais.
Todavia, existem dois pontos que são muito importantes de serem ressaltados:
1– As publicações jornalísticas informam sobre o aumento de 80% no risco, de maneira que podem gerar confusões. Este aumento é no risco relativo e não no risco absoluto do câncer de mama. Isso pode passar a falsa impressão que a pessoa tem 80% de chances de desenvolver a doença naquele período, quando na verdade, o que acontece é um aumento de 80% SOBRE o risco que a mulher já tinha de desenvolver a doença. As usuárias de DIUs hormonais geralmente são mulheres jovens, com menos de 40-45 anos de idade, cujo risco absoluto anual de desenvolver o câncer de mama é menor que 1%. Sendo assim, o aumento relativo de 80% costuma causar uma elevação no risco absoluto menor que 1%.
2 – Os anticoncepcionais hormonais possuem amplos benefícios e podem ser utilizados na população em geral, sob supervisão médica. Os benefícios dessas medicações são amplamente superiores ao discreto aumento do risco transitório de câncer de mama, que volta ao normal cerca de 10 anos após a interrupção do tratamento, ou seja, após esse tempo o risco é similar à paciente que nunca usou o método hormonal. Obviamente mulheres com câncer de mama pregresso ou risco elevado para a doença devem evitar o uso de medicações hormonais e ter acompanhamento médico personalizado.
Sendo assim a Sociedade Brasileira de Mastologia gostaria de reafirmar o apreço às pesquisas sobre risco de câncer de mama e ressaltar a importância da transmissão correta e transparente dos dados científicos.