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Estudo publicado pela revista ‘Educación Médica’, com a participação da SBM,traz dados e reflexões sobre esse importante modelo de formação.
O estudo “From mastectomy to reconstruction: Medical residency programs transforming breast cancer care”, coordenado pelo mastologista José Pereira Guará, presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia – Regional Maranhão, traz uma importante contribuição sobre os programas de residência em Mastologia no Brasil.
Publicado pela Educación Médica, revista dedicada à divulgação de iniciativas e experiências educacionais inovadoras, com o propósito de aprimorar o progresso científico e a qualidade em educação médica, o estudo conta também com a participação das pesquisadoras Alcione Miranda dos Santos e Rosângela Fernandes Lucena Batista, da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).
O estudo ecológico retrospectivo, realizado a partir de dados do SIH/SUS, analisou 244.538 procedimentos em 943 hospitais, dos quais 48 dispõem de programas de residência em Mastologia. Foram avaliadas internações hospitalares para tratamento cirúrgico de câncer de mama nos anos de 2014 a 2024.
A crescente demanda global por terapias especializadas para câncer de mama impulsionou a evolução do tratamento cirúrgico, tornando-o mais eficaz e diversificado, com diferentes níveis de complexidade, desde procedimentos conservadores até estratégias combinadas de reconstrução mamária. No entanto, o treinamento em cirurgia mamária é altamente heterogêneo em todo o mundo, com programas distintos de formação e níveis variados de proficiência.
No Brasil, a Mastologia é reconhecida como especialidade médica responsável pelo tratamento de doenças da mama. “Dentro do cenário mundial, o País desponta como um modelo de formação que difere dos Estados Unidos e de países europeus”, afirma o especialista José Pereira Guará. “Os mastologistas brasileiros passam por um programa específico de residência médica com duração de dois anos, projetado para profissionais que concluíram treinamento em Cirurgia Geral ou Obstetrícia e Ginecologia”, completa.
Como os programas de residência médica no País são regulamentados pelo Ministério da Educação, hospitais com programas de residência médica geralmente oferecem condições de saúde superiores, que refletem melhores prognósticos para diversas doenças.
Para a residência em Mastologia, o currículo é abrangente e engloba habilidades clínicas, diagnóstico por imagem e, especialmente, habilidades cirúrgicas em vários níveis de complexidade. Isso inclui desde procedimentos oncológicos clássicos até cirurgias oncoplásticas com utilização de pedículos variados de mamoplastia, retalhos fásciocutâneos locais, retalhos miocutâneos, lipoenxertia, emprego de implantes etc.
No estudo publicado pela Educación Médica, as curvas de tendência temporal das cirurgias conservadoras nos hospitais com e sem programas de residência médica apresentaram uma propensão de crescimento ao longo de todo o período. Quanto às mastectomias, houve tendência decrescente de 2014 a 2018, seguida por um aumento em 2020 e um declínio subsequente. Em 2024, hospitais com programas de residência mostraram uma proporção menor de mastectomias em comparação com aqueles sem programas. Para cirurgias reconstrutivas, nos anos de 2014 a 2017, as curvas de tendência temporal são sobrepostas para hospitais com e sem residência médica. Entretando, a partir de 2018, hospitais com residência médica performaram significativamente mais cirurgias reconstrutivas que hospitais sem residência médica, mesmo durante o período pandêmico e pós-pandêmico da Covid-19.
Pare medir se essas diferenças foram estatisticamente significativas, os autores utilizaram um Modelo Linear Generalizado Misto com os efeitos fixos e aleatórios, revelando que hospitais com residência médica foram responsáveis por executar cirurgias reconstrutivas da mama na ordem de pelo menos 80% a mais do que hospitais sem residência médica no âmbito do SUS a partir de 2018.
O estudo coordenado por Guará constata que hospitais com programas de residência em Mastologia representam menos de 5% de todas as instituições que realizam cirurgias de mama no Brasil. Porém, esses mesmos hospitais foram responsáveis por pelo menos um quarto de todas as cirurgias de mama em todo o País entre 2014 e 2024.
Além do treinamento cirúrgico em reconstrução oferecido nos programas de residência em Mastologia, o Brasil investe em cursos especializados em cirurgia oncoplástica que expandiram significativamente as técnicas reconstrutivas em todo o território nacional. “Muitos instrutores desses cursos são afiliados a programas de residência em Mastologia, o que contribui diretamente para o aumento do número de reconstruções realizadas nesses hospitais”, avalia.
Por fim, o estudo que tem a participação da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) demonstra, nas palavras de José Pereira Guará, “que a residência médica em Mastologia no cenário nacional é capaz de oferecer um tratamento muito mais complexo e com melhores resultados do ponto de vista estético e funcional para a paciente com câncer de mama”.