A Sociedade Brasileira de Mastologia gostaria de apresentar consternação e preocupação com informações recebidas por associados sobre a demora dos resultados de imunoistoquímica (IHQ) para o manejo do câncer de mama no cenário nacional.

A imunoistoquímica desempenha papel fundamental no manejo do câncer de mama, pois permite um tratamento personalizo e melhor desfecho de sobrevivência.

Personalização das Decisões de Tratamento

A IHQ é utilizada para analisar o tecido tumoral em busca de biomarcadores específicos, como os receptores de estrogênio (RE), receptores de progesterona (RP) e a proteína HER2. Determinar a presença ou ausência desses receptores é fundamental:

Receptores Hormonais (RE e RP): Se o tumor expressa esses receptores, os pacientes provavelmente se beneficiarão de terapias endócrinas (hormonais), como o tamoxifeno ou inibidores de aromatase. Esses tratamentos bloqueiam os hormônios que estimulam o crescimento do câncer, reduzindo assim o risco de recorrência.

Status HER2: Para tumores que superexpressam a proteína HER2, podem ser introduzidas terapias direcionadas, como o trastuzumabe (Herceptin). Embora os tumores HER2-positivos tendam a ser mais agressivos, a disponibilidade dessas terapias direcionadas melhorou significativamente os desfechos neste subgrupo.

Impacto nos Desfechos de Sobrevivência

A avaliação precisa proporcionada pela IHQ não apenas orienta a escolha de terapias sistêmicas, mas também o momento oportuno do tratamento, ou seja, esses exames associados ao estádio clínico definem se a paciente se beneficiará com a cirurgia imediata ou com o início do tratamento sistêmico primário.
Ao compreender o comportamento biológico do tumor através do seu status de receptores:

  • Os oncologistas podem prever melhor a agressividade do tumor e a resposta potencial ao tratamento.
  • Os planos de tratamento podem ser otimizados para melhorar a sobrevivência geral, reduzir as taxas de recorrência e aprimorar a qualidade de vida.
  • A medicina personalizada torna-se uma realidade, garantindo que os pacientes recebam as intervenções mais eficazes com base no perfil específico de seu câncer.
  • Desafios causados pelo Atraso da Imunoistoquímica

O atraso pode ter implicações clínicas significativas:

  • Início Atrasado do Tratamento: Um atraso na obtenção dos resultados da IHQ pode postergar o início das terapias adjuvantes — como as terapias endócrinas ou direcionadas — potencialmente reduzindo a janela de oportunidade para uma intervenção ideal e afetando a sobrevivência geral.
  • Atraso do Tratamento Neoadjuvante (quimioterapia primária): Em casos agressivos ou avançados, o atraso do resultado retarda a escolha do medicamento e o início da terapia sistêmica.
  • Incerteza na Tomada de Decisões Clínicas: Sem informações rápidas da IHQ, os clínicos podem enfrentar incertezas na seleção do regime de tratamento mais apropriado. Isso pode levar a abordagens de tratamento generalizadas, em vez das estratégias personalizadas que a IHQ suporta.
  • Aumento da Ansiedade do Paciente: Atrasos na obtenção de informações diagnósticas definitivas podem aumentar a ansiedade dos pacientes durante um período já desafiador, potencialmente impactando seu bem-estar geral.
  • Desafios Operacionais e Logísticos: Os atrasos podem resultar de limitações laboratoriais, restrições de recursos ou ineficiências processuais. Abordar essas questões é essencial para garantir que os pacientes recebam resultados precisos e em tempo hábil, facilitando decisões de tratamento rápidas.

Em resumo, os resultados desses exames são essenciais para a formulação de um plano de tratamento eficaz e individualizado, melhorando a sobrevivência dos pacientes. Sendo assim, a análise rápida e precisa da imunoistoquímica é, portanto, crucial para transformar o cuidado do câncer de mama em uma abordagem direcionada e bem-sucedida.

Demonstradas todas estas informações, a SBM gostaria de solicitar especial empenho aos serviços diagnósticos, assim como às fontes pagadoras (planos de saúde ou sistema público de saúde), no sentido de autorizar imediatamente a execução da imunohistoquímica frente ao diagnóstico histológico de câncer de mama, otimizar os processos burocráticos e agilizar os resultados.

Atenciosamente,

Augusto Tufi Hassan.
Presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia (2023-2025).

 

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