Estudo realizado com a participação da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) indica bons resultados para tratar o subtipo HER2-positivo, que responde por 20% dos diagnósticos da doença no mundo

Uma droga promissora no tratamento do câncer de mama metastático HER2-positivo, subtipo agressivo responsável por 20% dos diagnósticos da doença no mundo, surpreendeu cientistas de várias nacionalidades que participaram de um estudo recém-publicado na Nature Medicine. Um dos autores da pesquisa, o mastologista José Luiz Pedrini, diretor da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), afirma se tratar de um avanço importante. “Significa esperança para mulheres diagnosticadas com este subtipo de câncer de mama, e mesmo para as que vivenciam o retorno da doença após o tratamento inicial.”

O estudo “Trastuzumabe deruxtecan versus trastuzumabe emtansine no câncer de mama metastático HER2-positivo: Análise de sobrevida em longo prazo do estudo DESTINY-Breast03”, publicado no início de junho na renomada revista científica Nature Medicine, envolveu pesquisadores dos Estados Unidos, da Espanha, Itália, França, Austrália, China, Coreia do Sul, do Japão e Brasil. Para comprovar os resultados positivos da aplicação da nova droga T-DXd (trastuzumabe deruxtecan), as investigações foram realizadas em diferentes centros de pesquisas mundiais.

Quando em excesso, a HER2, proteína localizada na membrana das células mamárias, promove um crescimento expressivo de células cancerosas. Por esta razão, este subtipo de tumor tende a ser mais agressivo. Antes da descoberta dos subtipos da doença, incluindo HER2-positivo, os casos de câncer de mama tinham praticamente o mesmo tratamento.

Hoje, as alternativas disponíveis para o HER2-positivo preveem cirurgia, radioterapia, quimioterapia e hormonioterapia. Como avanço para tratá-lo, há a chamada terapia-alvo, que inclui o trastuzumabe emtansine (T-DM1), incorporado recentemente ao SUS (Sistema Único de Saúde). De forma geral, a droga promove o bloqueio da ação da proteína HER2, impedindo o estímulo de crescimento das células tumorais.

No estudo publicado na Nature Medicine, os pesquisadores puderam comparar a segurança e a eficácia de dois medicamentos, um deles o T-DM1, e a nova droga T-DXd no tratamento de mulheres com doença avançada do biomarcador HER2-positivo.

O T-DXd já tem aprovação nos Estados Unidos, na União Europeia e no Japão para pacientes com câncer de mama metastático HER2-positivo e é ministrado após a progressão da doença com taxano e trastuzumabe ou em pacientes que desenvolveram recorrência da doença durante o tratamento ou dentro de seis meses de conclusão da terapia neoadjuvante e/ou adjuvante, ou seja, antes ou após a cirurgia de câncer de mama.

No Brasil, sob a condução do mastologista José Luiz Pedrini, as investigações foram realizadas no Hospital Nossa Senhora da Conceição, em Porto Alegre (RS).

“Ao todo, o estudo envolveu 261 pacientes, com idade média de 54 anos, que usaram a nova droga T-DXd, e 263, tratadas com T-DM1”, afirma Pedrini. A investigação revelou que as mulheres submetidas ao tratamento com a nova droga apresentaram maior tempo de sobrevida livre de progressão da doença quando comparadas com as pacientes tratadas com T-DM1 durante todo o período do estudo. “Com o T-DXd foram 29 meses; no T-DM1, 7,2 meses”, destaca.

Os autores também avaliaram a sobrevida livre de progressão em 24, 36 e 48 meses, e os resultados de T-DXd também se mostraram melhores. “Em 24 meses, a sobrevida livre de progressão da doença no grupo T-DXd foi de 55,8% contra 20,6% no grupo T-DM1. Em 36 meses, foram 45,7% para T-DXd e 12,4% para T-DM1. Finalmente, em 48 meses, obtivemos 41,5% com o uso de T-DXd e 9,9% com T-DM1”, compara.

Para o diretor da SBM, que tem a mesma opinião dos cientistas que participaram da investigação, os resultados são surpreendentes. “Justamente porque nunca houve uma diferença de benefício tão grande entre a melhor droga até então e uma nova droga, a T-DXd”, afirma.

As pacientes que participaram da pesquisa fazem uso da nova droga há cinco anos. “De outra forma, não teríamos alternativas de sobreviva”, diz José Luiz Pedrini, que acrescenta: “Será que entramos no caminho do controle de uma doença, que até então era impossível de curar?”