Maioria das gestantes brasileiras recebe orientações superficiais sobre amamentação, aumentando riscos à saúde de mães e bebês
Alerta da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) aponta para a necessidade de incluir informações aprofundadas sobre lactação na rotina de pré-natal
Embora as estatísticas mostrem que entre 60% e 84% das gestantes brasileiras recebem informações sobre amamentação nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) alerta que estas orientações têm sido superficiais e insuficientes. De acordo com Mayka Volpato, responsável pelo Departamento de Aleitamento Materno da SBM, são muitas as mulheres que chegam ao consultório de mastologia com complicações mais graves relacionadas à amamentação, como mastite, formação de abscessos, fissuras que não cicatrizam e dor crônica, justamente pela falta de orientação adequada no pré-natal sobre as peculiaridades e implicações do aleitamento materno.
“Costumo dizer que toda paciente grávida precisa de um pré-natal de amamentação”, ressalta. A ponderação da mastologista da SBM tem uma razão: sem a preparação adequada, as mulheres acabam vivenciando experiências negativas durante a lactação, com grande prejuízo nutricional para o recém-nascido, com impacto direto em sua saúde, além de aumentar o impacto emocional do puerpério.
A OMS (Organização Mundial de Saúde) recomenda o aleitamento materno exclusivo nos primeiros seis meses de vida. O leite materno é rico em vitaminas e minerais, carboidratos, ferro, gorduras, hormônios, enzimas e anticorpos que atuam contra microorganismos e agentes infecciosos, garantindo proteção à criança. Entre os nutrientes também estão proteínas como a lactoalbumina.
Mesmo com um alto índice de mulheres informadas mulheres informadas sobre amamentação nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), a representante da SBM pontua que esta orientação é realizada de forma superficial.
A gravidade da situação é exemplificada por um estudo realizado com mulheres com diabetes gestacional em que o acesso à informação foi reduzido. “Até 25% não recebe qualquer orientação”, enfatiza dra Maika. A médica destaca ainda as disparidades regionais. Em municípios menores, a situação é ainda mais grave, com levantamentos indicando que a falta de informações pode atingir até 22% das gestantes.
Todas as mulheres que passam pelo pré-natal, na visão de Mayka Volpato, deveriam questionar ativamente seus médicos sobre amamentação, procurar orientações com o pediatra que vai acompanhar o bebê e buscar informações em grupos de apoio de amamentação do SUS (Sistema Único de Saúde). “Na falta dessas instruções no pré-natal, é importante que elas recebam, antes da alta hospitalar, orientações sobre a ‘pega’ correta para alimentação do bebê, o melhor posicionamento do recém-nascido e o que está por vir em casa na rotina de amamentação”, complementa a médica.
É no ambiente doméstico que dificuldade e complicações surgem, impactando na jornada da amamentação. Entre elas, a mastologista destaca o ingurgitamento mamário (“leite empedrado”) e a mastite, que atinge de 3% a 20% das lactantes. Fissuras que não cicatrizam e dores crônicas também são relatadas com frequência. “Quando orientadas previamente a manejar essas situações, as mulheres tendem a passar pelo período de amamentação com mais tranquilidade”, afirma Maika.
Ao reforçar a importância da amamentação, Mayka Volpato reitera que o aleitamento materno é a forma natural de estabelecimento de vínculo e afeto entre mãe e bebê. “Como estratégia de nutrição, contribui para a saúde da criança e da lactante e a redução da mortalidade infantil no Brasil”. A SBM defende, portanto, que a qualidade e aprofundamento das orientações sobre lactação e amamentação no pré-natal são essenciais para garantir um futuro mais saudável para os brasileiros.
Câncer raro associado a implante de silicone tem primeiro caso no Brasil
Estudo recém-publicado é uma importante contribuição científica sobre a ocorrência do tumor e se diferencia por apresentar uma forma de padronizar o estadiamento e o tratamento da doença
O Brasil registra o primeiro caso raro de carcinoma espinocelular associado ao implante mamário de silicone. De acordo com a literatura científica, as ocorrências ao redor do mundo são poucas, com pouco mais de 20 pacientes diagnosticadas. O estudo sobre o caso brasileiro, que resultou em publicação recente na Annals of Surgical Oncology (ASO), é coordenado pelo mastologista Idam de Oliveira Junior, sócio titular da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) e coordenador do Departamento de Mastologia e Reconstrução Mamária do Hospital de Amor, em Barretos (SP). A investigação se diferencia também por apresentar uma forma de padronizar o estadiamento e o tratamento da doença.
Os procedimentos com implantes mamários de silicone vêm sendo amplamente realizados desde a década de 1960. “São seguros e eficazes tanto para fins estéticos, quanto para a reconstrução das mamas, com a utilização de materiais que evoluíram para oferecer pouco ou nenhum risco às pacientes”, diz o mastologista Idam de Oliveira Junior. “A cada ano, temos mais mulheres vivendo por longo tempo com próteses de silicone. Neste sentido, é importante que qualquer alteração apresentada nos implantes seja considerada e investigada”.
De acordo com o mastologista, vêm crescendo nos últimos anos as evidências da associação entre implantes de silicone e efeitos imunológicos e inflamatórios que poderiam desencadear neoplasias como o linfoma anaplásico de grandes células associado a implantes mamários (BIA-ALCL, na sigla em inglês) e a síndrome autoinflamatória induzida por adjuvantes (ASIA, na sigla em inglês).
O estudo “Carcinoma espinocelular primário associado ao implante mamário de silicone: uma proposta para melhor abordagem cirúrgica e estadiamento clínico com base nas características do tumor”, publicado pela ASO, revista científica oficial da Sociedade Americana de Cirurgia Oncológica e da Sociedade Americana de Cirurgiões de Mama, tem além de Idam de Oliveira Junior a participação dos pesquisadores Marina Ignácio Gonzaga, Chrissie Casella Amirati, Natachia Moreira Vilela, Durval Renato Wohnrath e René Aloisio da Costa Vieira.
O carcinoma espinocelular associado ao implante mamário de silicone (BIA-SCC, na sigla em inglês) foi descrito pela primeira vez na literatura médica em 1992. “Devido ao número limitado de ocorrências, os fatores de risco para o desenvolvimento deste tipo de tumor altamente agressivo, com prognóstico desfavorável, são desconhecidos”, observa Oliveira Junior. Conforme a publicação, o BIA-SCC parece estar relacionado a um processo crônico de irritação e inflamação da cápsula que envolve o implante mamário. Com o tempo, essa irritação pode levar a alterações celulares, como metaplasia e displasia escamosa, que eventualmente evoluem para carcinoma espinocelular. Fatores como o uso prolongado de implantes (geralmente por mais de 10 anos) e a presença de líquido ao redor do implante podem contribuir para o desenvolvimento do tumor.
O mastologista Idam de Oliveira Junior enfatiza que o caso brasileiro de carcinoma espinocelular associado a implante mamário não é motivo para alarde. Muito pelo contrário, ressalta, trata-se de uma situação muito rara, mas que requer atenção dos especialistas.
Recentemente, a agência norte-americana Food and Drug Administration (FDA) lançou um alerta sobre a ocorrência de casos de carcinoma de células escamosas associado a implantes mamários (BIA-SCC).
No Brasil, o único caso descrito na literatura médica, que se junta a um número reduzido de ocorrências ao redor do mundo, foi avaliado por Oliveira Junior e sua equipe. Tratava-se de uma jovem que tinha implante de silicone, de longo prazo, com finalidade estética, com queixa de aumento acentuado no volume de uma das mamas associado a dor. Foi abordada inicialmente com troca de prótese e retirada da cápsula que a revestia, devido à presença de seroma (líquido ao redor da prótese) tardio. A cápsula apresentava sinais incomuns e foi encaminhada para a biópsia, que evidenciou a malignidade. Após esta etapa, a jovem foi submetida à retirada da prótese e mastectomia. “Mas devido à lesão avançada, houve recidiva de forma precoce e agressiva”, lembra Oliveira Junior. A partir do diagnóstico, a paciente brasileira teve uma sobrevida de 10 meses.
Com base na literatura científica sobre outros casos descritos, o especialista da SBM e sua equipe buscaram informações para entender o comportamento da doença. “A partir de estudos e de conceitos do estadiamento do linfoma associado à prótese de silicone, desenvolvemos um estadiamento para o carcinoma espinocelular, também com atenção ao implante mamário, correlacionando a sobrevida das pacientes”, diz.
Em casos avançados, a doença pode se espalhar para órgãos distantes como pulmões, fígado e mediastino, através da corrente sanguínea ou linfática. A disseminação local e regional é comum. O estadiamento avalia o grau de disseminação do câncer a partir de regras internacionalmente estabelecidas. O estadio de um tumor reflete não apenas a taxa de crescimento e a extensão da doença, mas também o tipo e a relação com a sobrevida.
Embora considere a raridade da ocorrência de carcinoma espinocelular associado a implante mamário, o mastologista reforça entre os especialistas a necessidade de exames completos e precisos, especialmente diante de seroma de início tardio. “Como demonstramos no estudo publicado na ASO, estamos diante de uma doença de comportamento agressivo. O diagnóstico precoce permite um tratamento mais eficiente com maior sobrevida para a paciente”, destaca.
Ele ressalta que o temor por alguma patologia relacionada aos implantes tem levado um grupo expressivo de mulheres a solicitar a retirada das próteses. “Não há espaço para que o medo influencie na decisão da paciente. Tudo precisa ser amplamente discutido e avaliado com respaldo científico”, conclui Idam Oliveira Junior.
Nova lei amplia o direito das mulheres sobre cirurgias reparadoras de mama
De acordo com a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), a garantia legal de reconstrução mamária em casos de mutilações por câncer, e agora também decorrentes de outras causas, está associada à qualidade de vida das pacientes
Uma nova lei amplia o direito das mulheres de recorrerem ao SUS (Sistema Único de Saúde) e também à saúde suplementar, que contempla o atendimento por operadoras e planos privados, para realizar cirurgia reparadora de mama. A determinação, que altera a Lei nº 9.797/1999 e a Lei nº 9656/1998, mantém o procedimento em situações de mutilação total ou parcial do órgão, salientando que agora a cirurgia é extensiva a outras causas além do câncer de mama. Sancionada em 17 de julho, com prazo para vigorar a partir de novembro deste ano, a Lei nº 15.171/2025, na avaliação do mastologista José Luiz Pedrini, assessor especial da Presidência da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), “é a grande notícia deste início de semestre”.
A SBM contribuiu diretamente para o texto da Lei nº 9.797/1999, que garantia a reconstrução mamária em casos de mutilações decorrentes de câncer de mama. Em 2013, uma emenda a esta mesma legislação, também com participação efetiva da entidade, acrescentou que o procedimento deveria ser realizado imediatamente, em condições clínicas favoráveis, após a retirada parcial ou total da mama devido ao tratamento de câncer ou tardiamente, quando a paciente apresentasse os requisitos necessários para a cirurgia. A partir da emenda da lei, a causa da não realização do procedimento de reconstrução deve estar descrita no prontuário da paciente.
Novamente alterada, agora na forma da Lei nº 15.171/2025, a determinação vai permitir a realização da cirurgia em casos não oncológicos, nos quais se incluem malformações, mamas tuberosas, grandes assimetrias, gigantomastia, entre outras ocorrências.
De acordo com o mastologista José Luiz Pedrini, a nova legislação também ganha em importância por permitir a simetrização da mama contralateral. O procedimento busca resultado estético semelhante e equilibrado entre as duas mamas. Assimetrias leves são previstas na cirurgia. O objetivo primordial, no entanto, é harmonizar a aparência da mama não afetada com a mama reconstruída para que se assemelhem em volume, forma e posicionamento das aréolas de maneira mais proporcional.
Segundo o assessor especial da Presidência da SBM, a mudança representa uma conquista, mas requer uma atuação efetiva da população, de gestores públicos e da saúde suplementar, assim como de entidades representativas, como a Sociedade Brasileira de Mastologia, para que seja cumprida. Da mesma forma, exige dos cirurgiões de mama formação e preparação para que a reconstrução mamária seja uma rotina condizente com a nova lei.
“A reconstrução mamária, como parte integral do tratamento oncológico, não é uma questão meramente estética”, observa o mastologista Fabrício Brenelli, presidente da Comissão de Oncoplastia da SBM e membro da diretoria da SBM Regional São Paulo.
Segundo o especialista, estudos indicam que a reparação mamária está associada à autoestima e à melhoria da qualidade de vida. “Em geral, a paciente que se submete à reconstrução das mamas após o tratamento do câncer tem menos episódios depressivos, menos medo de uma recorrência da doença, retoma mais rapidamente sua vida familiar e afetiva e também o trabalho.”
Sobre a simetrização da mama contralateral, prevista na nova lei, Brenelli destaca que a simetria é importante porque diz respeito ao contorno corporal feminino. “Uma mulher que passa por um procedimento que inclui a simetrização consegue se olhar no espelho com maior autoconfiança, sentindo-se mais feminina”, afirma.
Além de consolidar sua atuação para que os direitos das mulheres sobre as cirurgias reparadoras de mama sejam ampliados por meio de leis, a SBM é pioneira no Estado de São Paulo em cursos hands on de formação em cirurgia oncoplástica de reconstrução mamária. “Inicialmente, começamos as formações em Barretos (SP) e depois, com nossos times na Santa Casa e na Beneficência Portuguesa, na capital paulista, ampliamos a oferta de cursos”, lembra o mastologista. Atualmente, a SBM promove aprimoramento de cirurgia mamária oncoplástica com cursos em Goiânia, Jaú e Salvador, bem como por meio da Jornada Brasileira de Oncoplastia, realizada anualmente, e de parcerias com instituições internacionais.
Os candidatos aos cursos de cirurgia oncoplástica da SBM, ressalta Brenelli, são professores universitários. “Eles cuidam da residência médica e podem propagar esse conhecimento, ensinando as novas gerações e os próprios colegas a fazerem reconstrução mamária”, diz.
Ao dedicar investimentos à oncoplastia e à reconstrução mamária, a Sociedade Brasileira de Mastologia permitiu por meio dos cursos a formação de inúmeros cirurgiões em todo o País. “Isso fez com que houvesse um aumento extremamente grande de reconstrução mamária no SUS, justamente a pacientes que não tinham acesso a este tipo de cirurgia”, destaca.
Atualmente, a oncoplastia faz parte da matriz da residência médica. O mastologista que se forma hoje, segundo Brenelli, tem condições de avaliar e realizar uma reconstrução mamária parcial, total e uma simetrização da mama contralateral.
“A reconstrução mamária é parte fundamental da cura das pacientes diagnosticadas com câncer de mama. A nova lei, certamente, vai continuar ajudando muitas mulheres, principalmente as que mais precisam”, ressalta Fabrício Brenelli.
“A lei recém-sancionada vem em respeito à cidadania e à vida. Uma reconstrução imediata da mama pode levar cerca de 20 ou 30 minutos e representar um benefício para toda a vida da paciente”, conclui José Luiz Pedrini.
Cuidado centrado no paciente: o papel fundamental do engajamento significativo no tratamento oncológico
A Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), por meio de seu Departamento de Políticas Públicas, lança o novo documento “Cuidado centrado no paciente e advogando pelo envolvimento significativo dos pacientes oncológicos”, reforçando seu compromisso com um modelo de saúde mais humanizado, inclusivo e equitativo.
Inspirado pela campanha global “United by Unique” do Dia Mundial do Câncer, o material reconhece que cada jornada oncológica é única e que as decisões em saúde devem incorporar a vivência dos pacientes de forma ativa, respeitosa e transformadora. A publicação apresenta diretrizes claras para incorporar a experiência vivida no desenho, implementação e avaliação de políticas públicas, programas e serviços de saúde.
Acesse o documento completo aqui: Clique aqui para acessar.
Terapia Hormonal após Câncer de Mama: O que dizem as evidências científicas?
Recentemente, o público recebeu informações sobre uso de terapia hormonal (TH) para pacientes que tiveram câncer de mama. Diante disso, a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) resolveu se manifestar sobre estas publicações na rede social, dada a gravidade de estimular mulheres tratadas de câncer de mama a usarem hormônios para sintomas climatéricos.
O câncer de mama é uma contraindicação clássica ao uso de terapia hormonal do climatério/menopausa no conhecimento atual, por diferentes motivos. Primeiramente, já que se trata de tumor que predomina em mulheres e tem profunda participação dos esteroides sexuais femininos na sua fisiopatologia. Além disso, estudos clínicos bem estruturados que investigaram o uso de terapia hormonal em mulheres que sobreviveram ao câncer de mama, com o objetivo de determinar se a terapia hormonal estaria associada a um risco aumentado de recorrência ou desenvolvimento de novos cânceres de mama, evidenciaram aumento de risco de recorrência da neoplasia, consequentemente não autorizando essa prática. E é essa a evidência que, até hoje, profissionais de saúde se balizam para contraindicar o uso de hormônios.
O artigo utilizado nessa fala das redes sociais, foi uma revisão narrativa publicada em 2022, tipo de estudo que não baliza tomada de decisão. É importante entender que publicações científicas não são iguais entre si. Estudos com método científico mais estruturado possuem maior nível de evidência do que outros.
Neste sentido, revisões narrativas têm um baixo nível de evidência na hierarquia tradicional da medicina baseada em evidências (MBE), ficando abaixo de revisões sistemáticas, metanálises e ensaios clínicos randomizados. Isso ocorre porque não seguem um protocolo sistemático e transparente, a seleção dos estudos incluídos pode ser subjetiva e tendenciosa e podem refletir mais a opinião do autor do que uma análise abrangente da literatura. Na revisão narrativa, o autor escolhe quais estudos quer mencionar. Nas revisões sistemáticas, é necessário mencionar todos os estudos, mesmo que as conclusões sejam divergentes da opinião de quem faz a revisão. Por isto, revisões narrativas podem trazer maior número de vieses.
Veja que o paradigma que tem que ser quebrado é oferecer hormônios à mulher curada, em tempos de alta incidência dessa doença, e que estamos avançando no diagnóstico precoce e melhorando armas de tratamento que levam a uma maior sobrevida às mulheres. Para isto, precisaríamos de ensaio clínico randomizado sólido mostrando este benefício, o que é difícil, pois teríamos que oferecer hormônios a um braço da pesquisa à sobrevivente de câncer de mama, o que esbarra em aspectos éticos, posto que outros estudos neste sentido já foram realizados (HABITS, Stockholm, LIBERATE) e não endossam a segurança desta prescrição.
Somos totalmente favoráveis à melhoria de qualidade de vida das mulheres que tem câncer de mama, defendemos programas de survivorship que buscam este objetivo, mas não temos ainda segurança, baseada em evidência, para oferecer TH sistêmica a estas pacientes. Existem alternativas não-hormonais para tratamento dos sintomas vasomotores, que podem ser oferecidas com maior segurança.
Menopausal hormone therapy after breast cancer: the Stockholm randomized trial. von Schoultz E, Rutqvist LE. J Natl Cancer Inst . 2005 Apr 6;97(7):533-5.
Hormone replacement therapy after breast cancer: 10 year follow up of the Stockholm randomised trial. Fahlén M, Fornander T , Johansson H , Johansson U , Rutqvist L , Wilking N , von Schoultz E. European Journal of Cancer 49 (2013) 52–59.
HABITS (hormonal replacement therapy after breast cancer--is it safe?), a randomised comparison: trial stopped. Holmberg L, Anderson H, HABITS steering and data monitoring committees. Lancet. 2004 Feb 7;363(9407):453-5.
Increased risk of recurrence after hormone replacement therapy in breast cancer survivors. Holmberg L, Iversen O, Rudenstam CM. HABITS Study Group. J Natl Cancer Inst. 2008 Apr 2;100(7):475-82.
Safety and efficacy of tibolone in breast-cancer patients with vasomotor symptoms: a double-blind, randomised, non-inferiority trial. Kenemans P , Bundred N J, Foidart J. LIBERATE Study Group. Lancet Oncol. 2009 Feb;10(2):135-46.
Effects of tibolone on climacteric symptoms and quality of life in breast cancer patients--data from LIBERATE trial. Sismondi P, Kimmig R, Kubista E, et al. Maturitas. 2011 Dec;70(4):365-72.
SBM parabeniza Dr. Henrique de Lima Couto por contribuição ao consenso internacional da ASCO
A Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) gostaria de parabenizar nosso associado, Dr. Henrique de Lima Couto, pela autoria do artigo de atualização do consenso da ASCO sobre cirurgia de linfonodo sentinela em câncer de mama.
As diretrizes da ASCO têm papel relevante no cenário internacional e contribuem para decisões no tratamento de pacientes em inúmeras partes do mundo.
A presença de um brasileiro nesta importante publicação já seria motivo de júbilo, mas ainda temos mais um ponto a ressaltar.
O Dr. Henrique coloca a SBM como instituição de referência, trazendo visibilidade internacional à nossa instituição e seus associados.
Tal iniciativa fortalece especialistas brasileiros e contribui para o fortalecimento de nossa especialidade.
Sendo assim, também aproveitamos para agradecer ao Dr. Henrique pela iniciativa.
Atenciosamente,
Augusto Tufi Hassan
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Rastreamento mamográfico: entre benefícios e danos para as mulheres
Estudo realizado pela Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) utiliza o filme ‘Meu Malvado Favorito’ como alegoria para avaliar prós e contras que envolvem um exame importante para a detecção precoce do câncer de mama
Estudo conduzido pela Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) aborda aspectos divergentes do rastreamento mamográfico. Se por um lado o exame demonstra eficácia na diminuição da mortalidade por câncer de mama, no diagnóstico da doença em estágios menos avançados, na redução da necessidade de mastectomias, na menor frequência de dissecções axilares e no uso mais limitado da quimioterapia, por outro especialistas associam o rastreamento mamográfico a efeitos indesejáveis, entre eles os resultados falso-positivos que acarretam sofrimento psicológico às pacientes que recebem o diagnóstico. Na avaliação comparativa, o mastologista Ruffo Freitas-Junior, assessor especial da SBM e primeiro autor do estudo, afirma que os dados espelham uma situação de contrastes, “comparável à trama do filme Meu Malvado Favorito”. Assim como o personagem principal Felonius Gru, observa o especialista, por vezes a estratégia para detecção da doença assume contornos de heroísmo. Em outras, toma para si o papel de vilã.
O artigo “Rastreamento mamográfico: Herói ou vilão?” foi publicado na Revista da Associação Médica Brasileira (RAMB). Autor do estudo, juntamente com Aline Ferreira Bandeira de Melo Rocha, Rafael Batista João, André Mattar e Luciano Fernandes Chala, especialistas de diversas áreas médicas, Ruffo Freitas-Junior propõe a discussão do rastreamento mamográfico sob vários aspectos, incluindo o custo-benefício do procedimento com a redução de gastos a partir da detecção e do tratamento precoces do câncer de mama.
“Ao lançarmos mão da narrativa de Meu Malvado Favorito, e mais especificamente o comportamento complexo do personagem Gru, que oscila entre a vilania e a virtude, buscamos uma alegoria parar abordar diferentes considerações sobre o rastreamento mamográfico no Brasil”, destaca o autor.
Amplamente testada em inúmeros ensaios clínicos e avaliada recentemente em uma meta-análise por inteligência artificial, a mamografia como recurso para detectar precocemente o câncer de mama elenca vários benefícios. “Podemos dizer que sob o ‘aspecto heroico’, o rastreamento mamográfico está associado à redução da mortalidade a partir da descoberta do tumor em estágio inicial”, diz. O exame também pressupõe menor necessidade de cirurgias radicais e a redução de tratamento adjuvante, com a possibilidade de se evitar a quimioterapia. De acordo com o mastologista, outro ponto a ser observado é o custo-benefício. “Quanto mais cedo se descobre o câncer, menores são os gastos para tratar a doença”, ressalta.
No estudo publicado pela RAMB, os especialistas também consideram o rastreamento mamográfico como “vilão”. Um dos aspectos problemáticos diz respeito ao sobrediagnóstico, associado a tratamentos desnecessários. “A magnitude do sobrediagnóstico é controversa”, afirma o assessor da SBM. As estimativas variam entre 0% e 54% nos estudos e de 11 a 22% em ensaios clínicos randomizados”, destaca.
O especialista cita também os resultados falso-positivos. Segundo Freitas-Junior, os resultados falso-positivos ocorrem quando a recomendação para biópsia leva a um resultado patológico benigno. A frequência dessas recomendações varia entre 7% e 9,4% por década de rastreamento anual, indica o estudo.
O risco de desenvolvimento de câncer de mama por radiação no rastreamento mamográfico existe, embora afete 10 entre 100 mil mulheres entre 50 e 85 anos submetidas ao exame ao longo da vida.
Na conclusão do estudo, os autores consideram que entre a dualidade “heroica ou vilã” do rastreamento mamográfico, os benefícios gerados pelo exame para mulheres a partir de 40 anos de idade evidenciam muito mais o aspecto heroico. “Dessa forma, ressaltamos que é fundamental que o exame seja implementado nacionalmente a partir desta faixa etária, e não dos 50 aos 69 anos, a cada dois anos, como preconizado pelo Ministério da Saúde”, afirma. Esta estratégia colocada em prática no serviço público de saúde há mais de 20 anos, segundo o especialista, tem se mostrado ineficaz, uma vez que uma em cada duas brasileiras atendidas pelo SUS (Sistema Único de Saúde) tem o tumor de mama detectado em fases avançadas.
“No momento em que a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) se prepara para se reunir com as principais associações médicas do País com o propósito de definir as diretrizes de um programa de qualidade a ser lançado no futuro próximo, esperamos um entendimento que considere o rastreamento mamográfico como herói, e não como algoz das mulheres brasileiras que têm no exame a chance de um ótimo prognóstico de vida ao descobrir o câncer de mama de forma precoce”, conclui Ruffo Freitas-Junior.
Considerações da Sociedade Brasileira de Mastologia sobre o exame imunoistoquímico em câncer de mama
A Sociedade Brasileira de Mastologia gostaria de apresentar consternação e preocupação com informações recebidas por associados sobre a demora dos resultados de imunoistoquímica (IHQ) para o manejo do câncer de mama no cenário nacional.
A imunoistoquímica desempenha papel fundamental no manejo do câncer de mama, pois permite um tratamento personalizo e melhor desfecho de sobrevivência.
Personalização das Decisões de Tratamento
A IHQ é utilizada para analisar o tecido tumoral em busca de biomarcadores específicos, como os receptores de estrogênio (RE), receptores de progesterona (RP) e a proteína HER2. Determinar a presença ou ausência desses receptores é fundamental:
Receptores Hormonais (RE e RP): Se o tumor expressa esses receptores, os pacientes provavelmente se beneficiarão de terapias endócrinas (hormonais), como o tamoxifeno ou inibidores de aromatase. Esses tratamentos bloqueiam os hormônios que estimulam o crescimento do câncer, reduzindo assim o risco de recorrência.
Status HER2: Para tumores que superexpressam a proteína HER2, podem ser introduzidas terapias direcionadas, como o trastuzumabe (Herceptin). Embora os tumores HER2-positivos tendam a ser mais agressivos, a disponibilidade dessas terapias direcionadas melhorou significativamente os desfechos neste subgrupo.
Impacto nos Desfechos de Sobrevivência
A avaliação precisa proporcionada pela IHQ não apenas orienta a escolha de terapias sistêmicas, mas também o momento oportuno do tratamento, ou seja, esses exames associados ao estádio clínico definem se a paciente se beneficiará com a cirurgia imediata ou com o início do tratamento sistêmico primário.
Ao compreender o comportamento biológico do tumor através do seu status de receptores:
- Os oncologistas podem prever melhor a agressividade do tumor e a resposta potencial ao tratamento.
- Os planos de tratamento podem ser otimizados para melhorar a sobrevivência geral, reduzir as taxas de recorrência e aprimorar a qualidade de vida.
- A medicina personalizada torna-se uma realidade, garantindo que os pacientes recebam as intervenções mais eficazes com base no perfil específico de seu câncer.
- Desafios causados pelo Atraso da Imunoistoquímica
O atraso pode ter implicações clínicas significativas:
- Início Atrasado do Tratamento: Um atraso na obtenção dos resultados da IHQ pode postergar o início das terapias adjuvantes — como as terapias endócrinas ou direcionadas — potencialmente reduzindo a janela de oportunidade para uma intervenção ideal e afetando a sobrevivência geral.
- Atraso do Tratamento Neoadjuvante (quimioterapia primária): Em casos agressivos ou avançados, o atraso do resultado retarda a escolha do medicamento e o início da terapia sistêmica.
- Incerteza na Tomada de Decisões Clínicas: Sem informações rápidas da IHQ, os clínicos podem enfrentar incertezas na seleção do regime de tratamento mais apropriado. Isso pode levar a abordagens de tratamento generalizadas, em vez das estratégias personalizadas que a IHQ suporta.
- Aumento da Ansiedade do Paciente: Atrasos na obtenção de informações diagnósticas definitivas podem aumentar a ansiedade dos pacientes durante um período já desafiador, potencialmente impactando seu bem-estar geral.
- Desafios Operacionais e Logísticos: Os atrasos podem resultar de limitações laboratoriais, restrições de recursos ou ineficiências processuais. Abordar essas questões é essencial para garantir que os pacientes recebam resultados precisos e em tempo hábil, facilitando decisões de tratamento rápidas.
Em resumo, os resultados desses exames são essenciais para a formulação de um plano de tratamento eficaz e individualizado, melhorando a sobrevivência dos pacientes. Sendo assim, a análise rápida e precisa da imunoistoquímica é, portanto, crucial para transformar o cuidado do câncer de mama em uma abordagem direcionada e bem-sucedida.
Demonstradas todas estas informações, a SBM gostaria de solicitar especial empenho aos serviços diagnósticos, assim como às fontes pagadoras (planos de saúde ou sistema público de saúde), no sentido de autorizar imediatamente a execução da imunohistoquímica frente ao diagnóstico histológico de câncer de mama, otimizar os processos burocráticos e agilizar os resultados.
Atenciosamente,
Augusto Tufi Hassan.
Presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia (2023-2025).
Referências bibliográficas:
Early Breast Cancer Trialists' Collaborative Group (EBCTCG). Aromatase inhibitors versus tamoxifen in early breast cancer: patient-level meta-analysis of the randomised trials. Lancet. 2015 Oct 3;386(10001):1341-1352. doi: 10.1016/S0140-6736(15)61074-1. Epub 2015 Jul 23. PMID: 26211827.
Early Breast Cancer Trialists’ Collaborative group (EBCTCG). Trastuzumab for early-stage, HER2-positive breast cancer: a meta-analysis of 13 864 women in seven randomised trials. Lancet Oncol. 2021 Aug;22(8):1139-1150. doi: 10.1016/S1470-2045(21)00288-6. PMID: 34339645; PMCID: PMC8324484.
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Entidades médicas reforçam importância da mamografia a partir dos 40 anos e encaminham parecer técnico à ANS
Documento técnico enviado à ANS reforça a necessidade do rastreamento mamográfico a partir dos 40 anos para garantir diagnóstico precoce e reduzir a mortalidade por câncer de mama
A Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), juntamente com outras entidades médicas, encaminhou nesta semana um parecer técnico-científico à Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) em resposta ao pedido de informações sobre o rastreamento do câncer de mama. O documento, assinado em conjunto com o Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR), Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (FEMAMA), Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) e Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), destaca a importância da mamografia a partir dos 40 anos e defende que essa recomendação seja mantida tanto no sistema público quanto na saúde suplementar.
A mobilização das entidades médicas ocorre após a consulta pública promovida pela ANS, que propôs a elevação da idade mínima para rastreamento nos planos de saúde para 50 anos, com periodicidade bienal. A iniciativa gerou forte repercussão nacional, com manifestações contrárias de especialistas, artistas e da sociedade civil, que apontam os riscos da restrição no acesso ao exame e o impacto negativo no diagnóstico precoce.
O presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia, Dr. Tufi Hassan, enfatiza que a mamografia a partir dos 40 anos é essencial para detectar o câncer em estágios iniciais, aumentando as chances de cura e reduzindo a necessidade de tratamentos agressivos. “Cerca de 40% dos casos de câncer de mama no Brasil ocorrem entre os 40 e 50 anos. Se essa faixa etária não tiver acesso garantido à mamografia, veremos mais diagnósticos tardios e casos avançados, comprometendo os índices de sobrevida das pacientes. A detecção precoce salva vidas e deve ser prioridade”, alerta o especialista.
A recomendação das entidades médicas se baseia em evidências científicas consolidadas, que demonstram que a mamografia reduz a mortalidade por câncer de mama ao identificar tumores ainda pequenos, muitas vezes antes mesmo de apresentarem sintomas. Atualmente, 40% dos diagnósticos no Brasil ocorrem em estágios localmente avançados ou metastáticos, cenário que poderia ser revertido com um rastreamento ampliado e eficiente. Nos Estados Unidos, a USPSTF (U.S. Preventive Services Task Force) revisou suas diretrizes em 2024 e passou a recomendar a mamografia a partir dos 40 anos, reforçando a importância desse modelo de rastreamento para a redução da mortalidade.
“O câncer de mama continua sendo o tipo mais incidente entre as mulheres, e estima-se que 73.610 novos casos sejam diagnosticados por ano no Brasil até 2025. O rastreamento precoce não apenas reduz a necessidade de tratamentos agressivos, como também garante melhor qualidade de vida às pacientes”, afirma Dr. Tufi Hassan.
A SBM e as demais entidades signatárias do parecer técnico seguem dialogando com a ANS para garantir que o rastreamento mamográfico continue acessível a todas as mulheres a partir dos 40 anos. O documento detalha as evidências científicas que embasam essa recomendação e está disponível no site da SBM (www.sbmastologia.com.br).
“A ciência já demonstrou que a detecção precoce é fundamental para reduzir a mortalidade por câncer de mama. Esse parecer técnico é um passo essencial para garantir que a decisão sobre o rastreamento seja tomada com base em evidências e na proteção da saúde das mulheres. O diálogo com a ANS está em andamento, e esperamos que esse posicionamento seja levado em consideração”, finaliza Dr. Tufi Hassan.
Com a mobilização de especialistas e da sociedade, a defesa da mamografia a partir dos 40 anos segue como prioridade da SBM e de suas entidades parceiras, garantindo que mais mulheres tenham acesso ao diagnóstico precoce e ao tratamento adequado no momento certo.
Dia Nacional da Mamografia traz um panorama preocupante sobre o câncer de mama no Brasil
Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) revela que a cobertura mamográfica pelo SUS atinge apenas 33% da população-alvo no País. Aumento dos casos da doença e potencial diminuição das chances de cura preocupa especialistas
O Dia Nacional da Mamografia, instituído por lei em 2008, chama a atenção para uma situação preocupante. Com base em informações disponibilizadas pelo Painel Oncologia do DATASUS, a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) revela que a cobertura mamográfica pelo SUS (Sistema Único de Saúde) atinge atualmente apenas 33% da população-alvo no País. Esta constatação vem acompanhada de um dado ainda mais alarmante: 70% das mulheres atendidas pelo serviço público de saúde descobrem sozinhas o próprio tumor. “Ou seja, pela palpação das mamas as pacientes detectam por si mesmas o câncer em estágio avançado, sem mesmo terem passado pelo exame de mamografia”, explica o mastologista Ruffo Freitas-Junior, assessor especial da SBM. Nesta etapa, ressalta o especialista, as dificuldades para o enfrentamento da doença são ampliadas, assim como os custos para o tratamento, e há uma drástica redução das chances de cura.
“Este é um ano especialmente desafiador para o rastreamento e o enfrentamento do câncer de mama no Brasil”, afirma Tufi Hassan, presidente da SBM. Hoje, destaca o mastologista, para ter uma cobertura mamográfica ideal, o SUS deveria realizar o exame em mais de 70% da população-alvo.
O Brasil dispõe de 6.550 mamógrafos em uso em 2025. “Este é um número considerado suficiente para atender a população-alvo”, afirma o assessor especial da SBM, Ruffo Freitas-Junior. No entanto, o especialista observa que além dos desafios associados ao rastreamento nacional de câncer de mama e à melhoria da infraestrutura de saúde, há a necessidade de ampliar o acesso, a conscientização e a educação da população. “Estas iniciativas devem ser integradas a políticas de saúde pública para que o Brasil alcance resultados mais eficazes e equitativos”, destaca.
Pelas dificuldades de acesso à mamografia, a Sociedade Brasileira de Mastologia constata o maior aumento do câncer de mama em mulheres abaixo dos 50 anos no País. Atualmente, pacientes com idades entre 40 e 50 anos respondem por 23% dos casos da doença no Brasil. Diante desta realidade, a SBM recomenda a realização do exame a partir de 40, e não aos 50 anos, como preconiza o SUS por meio do Ministério da Saúde.
No SUS, com rastreamento bienal entre 50 e 69 anos, apenas 5% dos diagnósticos são carcinoma in situ, ou em estágio inicial; 40% são estágios localmente avançado ou metastático, “o que comprova, na prática, a total ineficácia do modelo proposto”, ressalta Freitas-Junior.
De acordo com Tufi Hassan, os desafios em 2025 incluem um novo capítulo protagonizado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), responsável pela regulação, normatização, controle e fiscalização de operadoras e planos privados de assistência à saúde. Por meio de Consulta Pública, o órgão pretende a realização do rastreamento organizado de câncer de mama por meio de mamografia em beneficiárias entre 50 e 69 anos a cada dois anos. “Estamos diante de um retrocesso que exige a participação de toda a sociedade, assim como a união das classes médicas para incentivar o diagnóstico precoce que, comprovadamente, salva vidas”, pontua o presidente da SBM. “É fundamental que as ações sejam respaldadas em estudos e pesquisas para proporcionar tratamentos adequados às mulheres”, completa.
Desde a biópsia até o primeiro tratamento, observam-se diferenças entre o SUS e a saúde suplementar. Em até 30 dias, os atendimentos representaram 21,1% no SUS e 45,4% no sistema privado. Entre 30 e 60 dias, o SUS registra 34%; a saúde suplementar, 40%. Acima de 60 dias, foram 44,9% no SUS e 14,6% no sistema privado. Neste sentido, a SBM também considera fundamental a aplicação da Lei nº 12.732 de 2012, que determina o início do tratamento no prazo máximo de dois meses.
Desde 1990, a mortalidade por câncer de mama no Brasil e na América Latina, de acordo com a SBM, aumenta continuamente. “Em uma data relevante, como o Dia Nacional da Mamografia, ressaltamos a importância de defendermos a qualidade assistencial para a maior efetividade no enfrentamento de uma doença com muitas opções de tratamento e excelente qualidade de vida para as pacientes, quando detectada precocemente”, conclui o presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia.