Pesquisa busca qualidade de vida para mulheres com câncer de mama triplo-negativo
Estudo com a combinação de três medicamentos para esta forma agressiva de câncer, conduzido por especialistas de várias nacionalidades, tem contribuições da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM)
Estudo realizado com a participação de centros internacionais de pesquisas e contribuições da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) avalia a aplicação combinada de três medicamentos no tratamento de pacientes com câncer de mama metastático triplo-negativo. Agressivo e de rápida evolução, esta forma de câncer apresenta uma taxa de mortalidade de 30% a 40%, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca). “Esta pesquisa, em especial, demonstra a importância de buscar, incessantemente, novas formas de tratamento que prolonguem, com qualidade, a vida de mulheres com câncer de mama”, afirma o mastologista Ruffo Freitas-Junior, assessor especial da SBM que integra o grupo de pesquisadores.
O artigo “Ipatasertibe de primeira linha, atezolizumabe e taxano tripleto para câncer de mama triplo-negativo metastático: resultados clínicos e de biomarcadores” foi publicado pela revista médica Clinical Cancer Research. Além dos brasileiros, participaram pesquisadores dos Estados Unidos, do Peru, México, Reino Unido, da França, Espanha, Ucrânia, Austrália, China, Coreia do Sul, do Japão e de Cingapura.
O estudo envolveu 317 pacientes com câncer de mama triplo-negativo metastático. A classificação “triplo-negativo” define a ausência dos receptores de estrogênio, progesterona e HER2, responsáveis pelo controle do crescimento do tumor, das células mamárias e da divisão celular. Mais incidente em jovens, com menos de 40 anos, também é comum em mulheres que apresentam mutação dos genes hereditários BRCA1 e/ou BRCA2, responsáveis por proteger o corpo do aparecimento de tumores. Ao sofrerem mutação, a função destes genes diminui e as chances de desenvolvimento do câncer aumentam.
Os pesquisadores avaliaram no estudo a utilização em sequência de três medicações: atezolizumabe, ipatasertibe e taxano. O atezolizumabe é uma opção utilizada em imunoterapia. Os taxanos são agentes quimioterápicos ministrados em câncer de mama metastático. O ipatasertibe, por sua vez, age como inibidor de uma importante via metabólica do câncer.
“Para a comunidade em geral, os resultados com a aplicação destes medicamentos não se mostraram tão animadores nas respostas ao tratamento do câncer de mama triplo-negativo metastático”, destaca. “Para os pesquisadores, no entanto, o estudo deu a conhecer aspectos que vão nos orientar em novas pesquisas.”
A comunidade científica e os especialistas em o câncer de mama, ressalta Freitas-Junior, persistem no aprimoramento dos tratamentos. O mastologista da SBM destaca a imunoterapia. Desde 2019, os casos de triplo-negativo no Brasil passaram a contar com a imunoterapia na fase metástica. Combinadas com a quimioterapia, drogas como a atezolizumabe podem reduzir em até 38% a taxa de mortalidade das pacientes e aumentar em 10 meses o tempo de sobrevida.
O especialista também observa no uso de anticorpos monoclonais droga-conjugada (ADCs) “um ganho bastante grande”. Esta estratégia é capaz de atingir certas células tumorais e liberar dentro delas um agente tóxico para combatê-las. Não por acaso, esses medicamentos são conhecidos como “cavalo de Troia”.
“Ainda estamos longe de ter um recurso ideal para parte de nossas pacientes, ainda que se tenha ganhado com as novas formas de tratamento”, afirma Ruffo Freitas-Junior. “Mas toda a pesquisa direcionada ao câncer de mama é incessante e visa ampliar as possibilidades terapêuticas, almejando uma vida com qualidade para as pacientes”, conclui o mastologista da SBM.
Novo estudo aponta as fragilidades do tratamento no câncer de mama
No Brasil, mulheres chefes de família, diagnosticadas com a doença, compõem um grupo severamente impactado em termos sociais e econômicos, indica Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM)
Relatório da Comissão Lancet de Câncer de Mama, estudo internacional realizado por um grupo multidisciplinar de especialistas de vários países, incluindo o Brasil, alerta para a falta de dados e a desigualdade de acesso ao tratamento da doença. Embora a Lancet Commission considere uma diminuição notável na mortalidade por câncer de mama na maioria dos países mais desenvolvidos, o estudo mostra que muitos pacientes em nações menos favorecidas ainda não são tratados adequadamente. “A subnotificação e o real impacto econômico da doença em países de baixa e média rendas, como o Brasil, são pontos frágeis que necessitam de maior atenção para o enfrentamento deste grande problema de saúde pública que é o câncer de mama”, afirma a mastologista Rosemar Rahal, membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Mastologia (SMB).
O estudo da Lancet Commission, divulgado recentemente no Reino Unido, indica que 7,8 milhões de mulheres diagnosticadas com câncer de mama em 2015 estavam vivas no final de 2020. Segundo os participantes do relatório, este é um reflexo do progresso nas investigações e na gestão o câncer, que possibilitaram reduzir em 40% a mortalidade pela doença na maioria dos países desenvolvidos e de maior renda. Ao mesmo tempo, porém, o estudo demonstra que é preciso avançar no rastreamento e tratamento. Também em 2020, 685 mil mulheres morreram em decorrência do câncer.
Um exemplo trazido pelo relatório, e que configura desigualdade, diz respeito aos dados sobre pacientes com câncer de mama metastático. O grupo multidisciplinar da Lancet constata que o número de pessoas em estágio avançado da doença ainda é desconhecido, pois os casos estão subnotificados.
Ao trazer o problema para o cenário nacional, Rosemar Rahal considera que a subnotificação, de forma geral, “não permite um real diagnóstico de dados epidemiológicos, como os de incidência e mortalidade, que são relevantes e norteadores para as estratégias de saúde pública no País”.
Estudo piloto trazido pela Lancet Commission ouviu 606 mulheres que vivem com câncer de mama. Quase todas relataram “problemas físicos ou de bem-estar” relacionados à doença, como perda de emprego. Entre as participantes no estágio inicial do câncer, 27% declararam ter dificuldades financeiras. Entre as que enfrentavam a doença na fase metastática eram 35%.
A mastologista aponta grandes desafios, considerando o impacto social e econômico da doença no Brasil. “O número de lares que têm a mulher como a principal fonte financeira é relevante”, diz. De acordo com levantamento do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), mais da metade dos lares brasileiros (50,9%) é chefiado por mulheres. “Muitas vezes, após o diagnóstico de câncer de mama, a impossibilidade das atividades laborais em subempregos e mesmo a demissão de atividades com vínculo empregatício tornam claras a repercussões econômicas da doença”, diz Rosemar Rahal. Entretanto, ressalta, os números reais desta realidade e o impacto financeiro ainda não foram corretamente mensurados no País. “E aqui incluímos uma situação gravíssima: o abandono do tratamento em decorrência de barreiras sociais e econômicas”, completa.
Para a especialista da SBM, tão importante quanto lançar luz sobre as desigualdades que envolvem o diagnóstico e o tratamento do câncer de mama, é ter uma visão mais abrangente sobre a situação da doença no Brasil. “Somente desta forma teremos como aprimorar as políticas públicas voltadas ao enfrentamento da doença”, conclui Rosemar Rahal.
Maior congresso de mastologia do Brasil traz avanços no enfrentamento do câncer de mama
Em 26ª edição, evento sediado em Porto Alegre (RS) apresenta visões globais com potencial para orientar políticas públicas no Brasil
De 10 a 13 de abril, especialistas brasileiros e estrangeiros participam do 26º Congresso Brasileiro de Mastologia. Organizado pela Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) e SBM Regional Rio Grande do Sul (SBM-RS), o evento sediado em Porto Alegre se consolida nesta edição por congregar as principais autoridades científicas nacionais e internacionais sobre uma visão global no controle do câncer de mama e suas potencialidades na orientação de políticas públicas para o enfrentamento da doença no Brasil.
“O Congresso Brasileiro de Mastologia tornou-se um evento de excelência, em que se discutem os temas mais atualizados da especialidade, tendo como participantes autoridades brasileiras e internacionais”, afirma Tufi Hassan, presidente da SBM. “Nesta edição, especialmente, temos a oportunidade de absorver conhecimentos e informações para nortear nosso trabalho como mastologistas e também políticas públicas nacionais.”
Com a expectativa de reunir mais de 1.500 especialistas, a 26ª edição tem início quarta-feira (10/04) com a Atividade Pré-Congresso. Nos dois painéis organizados pelo IGCC (Instituto de Governança e Controle do Câncer), serão discutidas perspectivas sobre a política nacional de prevenção e controle do câncer de mama e o papel das cidades na prevenção e no controle da doença.
Para a aula magna o convidado é o especialista Ben Anderson. O professor de Cirurgia e Medicina de Saúde Global na Universidade de Washington assinala várias contribuições inestimáveis em seu vasto currículo. Na OMS (Organização Mundial da Saúde), atuou como diretor médico para liderar o Comitê Global sobre Câncer de Mama. Na Atividade Pré-Congresso, em Porto Alegre, Anderson aborda o objetivo compartilhado com atores de todo o mundo na Iniciativa Global contra o Câncer de Mama, da OMS, para reduzir a incidência da doença em 2,5% por ano, que pouparia 2,5 milhões de vida em duas décadas.
Um dos compromissos do 26º Congresso de Mastologia é referendar a “Carta de Porto Alegre”. O documento, que será assinado por autoridades federais, estaduais e municipais na abertura do evento, na próxima quinta-feira (11/04), propõe no contexto de pacto a adoção de soluções para os principais problemas de rastreamento, diagnóstico e tratamento da doença no Brasil. “A ‘Carta de Porto Alegre’, sob a coordenação do mastologista José Luiz Pedrini (membro da Comissão Científica do evento), foi elaborada nos últimos seis meses em parceria com importantes organizações não governamentais. A meta, neste documento, é o avanço no tratamento do câncer de mama no Brasil”, destaca Andréa Damin, presidente do 26º Congresso Brasileiro de Mastologia e da SBM-RS.
Políticas públicas
A lei que cria a Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer (PNPCC), publicada no final de 2023, constitui um marco na luta contra a doença. A legislação surge da força da participação social, no momento em que o câncer é reconhecido como uma das principais causas de morte no Brasil. As mudanças trazidas pela lei e os seus impactos na saúde da população brasileira também serão abordadas no 26º Congresso Brasileiro de Mastologia.
“Nós, da SBM, estamos decididos a contribuir para a diminuição dos casos avançados de câncer de mama no Brasil e, por conseguinte, reduzir a mortalidade por esta doença”, afirma a mastologista Sandra Gioia, presidente do Departamento de Políticas Públicas da SBM. “Para nortear nossas ações, contamos com metas e indicadores globais.”
As principais diretrizes da PNPCC incluem o fortalecimento da prevenção, diagnóstico precoce, tratamento de qualidade e suporte integral aos pacientes e familiares. Nos próximos passos, a abordagem será pela implementação efetiva dessas instruções, o aumento do acesso aos serviços de saúde, a promoção de campanhas de conscientização e o investimento em pesquisa e inovação.
“No contexto da nova lei, o congresso é uma oportunidade para compartilharmos vários casos de sucesso implementados no Brasil com representantes da OMS, do Ministério da Saúde, da sociedade civil e com gestores de Saúde do Rio Grande do Sul”, destaca Sandra.
No curso pré-congresso, os organizadores programam uma sessão científica inteiramente voltada a discutir aspectos de saúde pública. “Nesta atividade, teremos a participação do diretor geral do INCA (Instituto Nacional de Câncer), Roberto Gil, e do coordenador-geral de Políticas Nacionais de Prevenção e Controle do Câncer do Ministério da Saúde, Fernando Maia. Também contaremos com Fernando Ritter, secretário de Saúde de Porto Alegre, e Arita Bergmann, secretária de Saúde do Estado do Rio Grande do Sul”, completa a presidente da SBM-RS, Andréa Damin.
Contribuições mundiais
Para Andréa Damin, o 26º Congresso Brasileiro de Mastologia se configura como “um momento único para vivenciar os maiores avanços científicos na especialidade”.
Entre os participantes do evento, a presidente da SBM-RS destaca Monica Morrow, chefe do Departamento de Cirurgia Mamária do Sloan Kattering Cancer Center de Nova York. “Uma das maiores pesquisadoras da doença no mundo, tem revolucionado conceitos na área de cirurgia. Ela vai discutir em profundidade a cirurgia axilar no câncer de mama.”
Terry Mamounas, diretor médico da Divisão de Câncer de Mama do Complexo de Saúde de Orlando, Flórida, também é presença confirmada no evento. Coordenador de grandes estudos na área da terapia adjuvante hormonal, o especialista vai abordar novos aspectos do tratamento adjuvante.
A presidente da SBM-RS destaca também a contribuição de Michele Pilewski, professora de Cirurgia Mamária na Universidade de Michigan, “com grande experiência nas áreas de cirurgia e prevenção do câncer de mama”.
Além dos pesquisadores que atuam nos Estados Unidos, o congresso conta com a participação de Benigno Acea, chefe da Divisão de Cirurgia Mamária do Hospital Universitário de La Coruña, Espanha, com contribuições relevantes na área de oncoplastia.
26º Congresso Brasileiro de Mastologia
10 a 13 de abril
Centro de eventos do BarraShoppingSul
Av. Diário de Notícias, 300, Cristal – Porto Alegre (RS)
Informações e inscrições: www.mastologia2024.com.br
Vacinas que protegem os pacientes com câncer
Com a disseminação de diferentes vírus respiratórios no outono, Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) destaca os imunizantes que devem ser priorizados nos casos da doença
O boletim InfoGripe, divulgado no final de março pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), indica aumento de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave entre crianças, jovens e adultos. A situação comum a todas as regiões brasileiras decorre da disseminação de diferentes vírus respiratórios, como influenza, causador da gripe, vírus sincicial respiratório (VSR) e rinovírus. A Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) avalia este quadro com preocupação. “Em pacientes com câncer, o risco de hospitalização por influenza quadruplica em relação à população geral. No caso de pneumonia, a probabilidade de desenvolvimento da forma invasiva da doença é ainda maior”, afirma o mastologista André Mattar, tesoureiro adjunto e membro do Departamento de Tratamento Sistêmico da SBM. A recomendação do especialista para quem recebeu o diagnóstico de câncer é vacinar-se.
Com melhores respostas ao tratamento do câncer de mama ao longo dos anos, outras infecções passaram a preocupar os mastologistas. “Entre as que chamam a atenção, estão a influenza e a pneumonia”, diz André Mattar. Além de reduzir o risco de hospitalização, quatro vezes maior se comparado a mulheres que não têm câncer, a vacina contra o vírus da gripe proporciona redução de mortalidade em quase 60%. “Nos casos de pneumonia, a propensão de desenvolver a forma invasiva da doença aumenta de 12 a 50 vezes entre pacientes oncológicos”, destaca.
Os imunizantes contra influenza e pneumonia fazem parte do rol das chamadas vacinas inativadas. Hepatite A e B, HPV, Herpes Zóster, Tétano, Coqueluche, Vírus Sincicial Respiratório, entre outras, compõem este grupo. Atualmente, todas as vacinas disponíveis contra Covid-19 também são inativadas. “Para as mulheres com câncer de mama, o ideal é utilizar estas vacinas 30 dias antes do início da quimio, ou três meses após o término da quimio ou da radioterapia”, diz. No entanto, se houver necessidade, o especialista pode recomendar a aplicação mesmo durante a quimioterapia. “Sabemos que a resposta vacinal é inferior em pacientes com câncer, mas o risco de complicações por outras doenças precisa ser avaliado.”
Todas as vacinas são indicadas para quem trata um câncer? “Nem todas”, enfatiza Mattar. Vacinas de bactéria ou que têm o vírus vivo atenuado não são recomendadas. Neste grupo estão incluídas BCG, Pólio oral (VOP), Varicela, Tríplice viral, contra sarampo, caxumba e rubéola, Tetraviral, que além das três doenças acrescenta a varicela, e Febre Amarela. Também o imunizante contra a Dengue deve ser evitado. “Estas vacinas são contraindicadas para pessoas imunodeprimidas, como é o caso dos pacientes oncológicos”, ressalta.
As situações que permitem a aplicação das vacinas de bactéria ou vírus vivo atenuado se restringem a quem ainda não iniciou o tratamento do câncer. “Idealmente, devem ser ministradas até 30 dias antes do início do tratamento imunossupressor. Se não aplicados antes, o paciente pode receber os imunizantes três meses depois do término da quimio ou da radioterapia, desde que o câncer esteja em remissão e a pessoa sem grave imunocomprometimento”, diz o mastologista.
De acordo com André Mattar, é importante que as pessoas diagnosticadas com câncer ou que já estejam em tratamento da doença procurem os Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE). Estabelecidos em 1993, os CRIE integram o SUS (Sistema Único de Saúde) em todos os Estados brasileiros, incluindo o Distrito Federal. Estes centros contam com infectologistas para orientar a população e permitem acesso às vacinas a pacientes imunodeprimidos ou não.
“Especialmente neste período do ano, em que há uma prevalência de doenças respiratórias, nunca é demais recomendar que a população brasileira se vacine. A prescrição de imunizantes contra influenza e pneumonia deve ser avaliada como uma proteção a pessoas com diagnóstico de câncer”, conclui o especialista da SBM.