Vitamina D no tratamento de câncer de mama traz resultados promissores

Vitamina D no tratamento de câncer de mama traz resultados promissores

Estudo apresentado pela Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) avalia boas respostas a partir da suplementação de vitamina D em pacientes submetidas à quimioterapia neoadjuvante

Medicamento acessível e de baixo custo, a vitamina D é associada a respostas promissoras no tratamento de câncer de mama. É o que demonstra estudo da Faculdade de Medicina da Unesp de Botucatu (SP) apresentado no Brazilian Breast Cancer Symposium (BBCS), em Brasília (DF). A pesquisa envolveu 80 mulheres a partir de 45 anos, diagnosticadas com câncer de mama. Metade das pacientes foi suplementada com vitamina D. As demais receberam placebo. “O grupo que obteve suplementação vitamínica apresentou uma resposta brilhante, em comparação ao que não recebeu”, afirma o mastologista Eduardo Carvalho Pessoa, presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) Regional São Paulo.

A vitamina D é um hormônio essencial para manutenção da saúde óssea, absorção de cálcio e diversas funções essenciais no organismo. Cerca de 80% da vitamina D se forma quando os raios solares entram em contato com a pele. O restante da formação vem dos alimentos. Pelo fato de o Brasil ser um país tropical e ensolarado, imaginava-se que a população não apresentasse deficiência de vitamina D. No entanto, estudos provam o contrário e a hipovitaminose afeta principalmente mulheres na pós-menopausa.

A diretriz clínica da Task Force norte-americana considera deficiência de vitamina D valores inferiores a 20 ng/mL. Acima de 30 ng/mL é indicador de melhor disponibilidade desse hormônio no organismo.

Na Faculdade de Medicina da Unesp, a partir de investigações capitaneadas por Eliana Aguiar Petri Nahas, professora titular do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia, a correlação entre vitamina D em organismos acometidos pelo câncer de mama foram observados em um estudo anterior ao apresentado na BBCS. “Investigamos, primeiramente, os níveis desta vitamina em pacientes na pós-menopausa sem câncer de mama e comparamos com mulheres na mesma condição, porém diagnosticadas com a doença”, lembra Pessoa. “Observamos que o nível basal de vitamina D foi muito menor nas pacientes com câncer do que nas mulheres que não apresentavam este neoplasma maligno. E esta evidência nos motivou a ir além”, diz.

O avanço nas pesquisas se materializou no estudo apresentado pela Sociedade Brasileira de Mastologia à comunidade médica no BBCS. Realizada entre outubro de 2019 e agosto de 2022, a investigação envolveu 80 mulheres com câncer de mama, todas elegíveis para tratamento quimioterápico neoadjuvante, atendidas no Centro de Avaliação em Mastologia da Faculdade de Medicina da Unesp Botucatu. “Progredimos nesta linha de pesquisa investigando pacientes em diferentes tipos da doença: com tumores luminais, HER2 e triplo negativo”, destaca Pessoa.

Metade das mulheres participantes do estudo recebeu suplementação de 2.000 UI de vitamina D. Em outras 40 pacientes foi ministrado placebo. “Recebendo quimioterapia neoadjuvante e suplementação de vitamina D, o primeiro grupo apresentou um retorno brilhante com o tratamento, com resposta patológica completa em comparação ao que contou apenas com a medicação placebo”, diz o especialista. “Se considerarmos que a resposta patológica completa está associada à maior sobrevida livre de doença, temos o importante impacto de uma medicação barata no cenário do câncer de mama”, ressalta.

Para Eduardo Pessoa, os resultados trazidos pela pesquisa abrem grandes possibilidades para novos estudos. “Investigações mais aprofundadas podem confirmar o papel da vitamina D no aumento da taxa de resposta patológica completa, que como sabemos se traduz em maior chance de cura do câncer de mama”, conclui o mastologista da Sociedade Brasileira de Mastologia.


Nova droga é esperança para tratamento de câncer de mama agressivo

Nova droga é esperança para tratamento de câncer de mama agressivo

Estudo realizado com a participação da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) indica bons resultados para tratar o subtipo HER2-positivo, que responde por 20% dos diagnósticos da doença no mundo

Uma droga promissora no tratamento do câncer de mama metastático HER2-positivo, subtipo agressivo responsável por 20% dos diagnósticos da doença no mundo, surpreendeu cientistas de várias nacionalidades que participaram de um estudo recém-publicado na Nature Medicine. Um dos autores da pesquisa, o mastologista José Luiz Pedrini, diretor da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), afirma se tratar de um avanço importante. “Significa esperança para mulheres diagnosticadas com este subtipo de câncer de mama, e mesmo para as que vivenciam o retorno da doença após o tratamento inicial.”

O estudo “Trastuzumabe deruxtecan versus trastuzumabe emtansine no câncer de mama metastático HER2-positivo: Análise de sobrevida em longo prazo do estudo DESTINY-Breast03”, publicado no início de junho na renomada revista científica Nature Medicine, envolveu pesquisadores dos Estados Unidos, da Espanha, Itália, França, Austrália, China, Coreia do Sul, do Japão e Brasil. Para comprovar os resultados positivos da aplicação da nova droga T-DXd (trastuzumabe deruxtecan), as investigações foram realizadas em diferentes centros de pesquisas mundiais.

Quando em excesso, a HER2, proteína localizada na membrana das células mamárias, promove um crescimento expressivo de células cancerosas. Por esta razão, este subtipo de tumor tende a ser mais agressivo. Antes da descoberta dos subtipos da doença, incluindo HER2-positivo, os casos de câncer de mama tinham praticamente o mesmo tratamento.

Hoje, as alternativas disponíveis para o HER2-positivo preveem cirurgia, radioterapia, quimioterapia e hormonioterapia. Como avanço para tratá-lo, há a chamada terapia-alvo, que inclui o trastuzumabe emtansine (T-DM1), incorporado recentemente ao SUS (Sistema Único de Saúde). De forma geral, a droga promove o bloqueio da ação da proteína HER2, impedindo o estímulo de crescimento das células tumorais.

No estudo publicado na Nature Medicine, os pesquisadores puderam comparar a segurança e a eficácia de dois medicamentos, um deles o T-DM1, e a nova droga T-DXd no tratamento de mulheres com doença avançada do biomarcador HER2-positivo.

O T-DXd já tem aprovação nos Estados Unidos, na União Europeia e no Japão para pacientes com câncer de mama metastático HER2-positivo e é ministrado após a progressão da doença com taxano e trastuzumabe ou em pacientes que desenvolveram recorrência da doença durante o tratamento ou dentro de seis meses de conclusão da terapia neoadjuvante e/ou adjuvante, ou seja, antes ou após a cirurgia de câncer de mama.

No Brasil, sob a condução do mastologista José Luiz Pedrini, as investigações foram realizadas no Hospital Nossa Senhora da Conceição, em Porto Alegre (RS).

“Ao todo, o estudo envolveu 261 pacientes, com idade média de 54 anos, que usaram a nova droga T-DXd, e 263, tratadas com T-DM1”, afirma Pedrini. A investigação revelou que as mulheres submetidas ao tratamento com a nova droga apresentaram maior tempo de sobrevida livre de progressão da doença quando comparadas com as pacientes tratadas com T-DM1 durante todo o período do estudo. “Com o T-DXd foram 29 meses; no T-DM1, 7,2 meses”, destaca.

Os autores também avaliaram a sobrevida livre de progressão em 24, 36 e 48 meses, e os resultados de T-DXd também se mostraram melhores. “Em 24 meses, a sobrevida livre de progressão da doença no grupo T-DXd foi de 55,8% contra 20,6% no grupo T-DM1. Em 36 meses, foram 45,7% para T-DXd e 12,4% para T-DM1. Finalmente, em 48 meses, obtivemos 41,5% com o uso de T-DXd e 9,9% com T-DM1”, compara.

Para o diretor da SBM, que tem a mesma opinião dos cientistas que participaram da investigação, os resultados são surpreendentes. “Justamente porque nunca houve uma diferença de benefício tão grande entre a melhor droga até então e uma nova droga, a T-DXd”, afirma.

As pacientes que participaram da pesquisa fazem uso da nova droga há cinco anos. “De outra forma, não teríamos alternativas de sobreviva”, diz José Luiz Pedrini, que acrescenta: “Será que entramos no caminho do controle de uma doença, que até então era impossível de curar?”


Manifesto é criado para federalização da testagem genética para câncer de mama e ovário no Brasil

Manifesto é criado para federalização da testagem genética para câncer de mama e ovário no Brasil

No Fórum de Acesso ao Painel Genético em Câncer de Mama, realizado no Brazilian Breast Cancer Symposium (BBCS), em Brasília, Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) e Femama apresentam documento a ser enviado ao Ministério da Saúde com viabilidade da testagem em todo o País

O Instituto Nacional do Câncer (Inca) estima 73.610 novos casos de câncer de mama para cada ano do triênio 2023-2025. No Brasil, a doença tem sido diagnosticada em 42% das pacientes, com aproximadamente 16% de óbitos. Este tipo de neoplasma maligno é a primeira causa de mortalidade entre as mulheres brasileiras. Para o câncer de ovário, segunda neoplasia ginecológica mais comum, a estimativa é de 7.310 novos casos para cada ano do mesmo triênio. Em 2020, o câncer ovariano totalizou 3.920 óbitos, o que representa 3,62 mortes em cada 100 mil pacientes. Entre os fatores aumentados de risco, especialistas destacam a mutação do gene BRCA. De acordo com a Sociedade Brasileira de Mastologia (SMB), esta alteração genética representa até 80% de possibilidade de desenvolvimento de câncer de mama e de 40% para o de ovário. Diante desta realidade, SBM e Femama (Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama) apresentaram no Fórum de Acesso ao Painel Genético em Câncer de Mama do Brazilian Breast Cancer Symposium (BBCS), em Brasília (DF), um manifesto a ser encaminhado ao Ministério da Saúde, acompanhado de um documento (policy paper) com todo o processo de estruturação de testagem genética para detecção de mutações patogênicas e provavelmente patogênicas para pacientes com câncer de mama e ovário e seus familiares no âmbito do SUS (Sistema Único de Saúde).

A testagem genética é recomendada por protocolos internacionais. No sistema suplementar brasileiro, operado pelos planos de saúde, está disponível desde 2014. “Sabemos que em boa parte das pacientes diagnosticadas com câncer de mama e ovário a origem pode ser genética”, afirma o presidente da SBM, Tufi Hassan, no Fórum de Acesso ao Painel Genético em Câncer de Mama do BBCS.

De acordo com Hassan, a testagem nestas mulheres pode beneficiá-las com exames mais precoces, quimioprevenção e cirurgias profiláticas. “É muitíssimo importante que esta testagem seja realidade em todo o País, pois diminuiria custos de tratamento adiante e daria sobrevida a essas pacientes”, diz.

O benefício de prevenção do câncer de mama e ovário hereditários pode impactar significativamente as famílias e a sociedade como um todo, evitando todo o sofrimento advindo do diagnóstico e do tratamento de um câncer.

Embora se destaque a robustez dos benefícios do acesso ao painel genético de BRCA1 e BRCA2 e esteja comprovada a efetividade da detecção de mutações patogênicas nestes genes, a testagem não está disponível no SUS em todo território nacional. Apenas Amazonas (Lei nº 5.404/2021), Goiás (Lei nº 20.707/2020), Minas Gerais (Lei nº 23.449/2019), Rio de Janeiro (Lei nº 7049/2015) e o Distrito Federal (Lei nº 6.733/2020) aprovaram leis que garantem o acesso à testagem genética por meio de seus serviços locais. Somente em Goiás o teste está disponível para toda a população desde fevereiro de 2023, por meio do programa Goiás Todo Rosa.

De acordo com a médica mastologista Rosemar Rahal, membro da diretoria da SBM, o documento (policy paper) apresentado no Fórum de Acesso ao Painel Genético em Câncer de Mama do BBCS norteia todo o processo de estruturação da testagem no Brasil. “Neste documento, que deve ser levado ao Ministério da Saúde, apresentamos números robustos sobre a importância da testagem e consideramos que já temos uma estrutura e maquinário para a realização deste procedimento”, afirma.

Há quatro anos, a Femama trabalha com o Congresso Nacional na concretização do Projeto de Lei nº 265/2020 para incluir a testagem genética no SUS, visando o controle dos cânceres de mama e ovário. Desde o ano passado, em conjunto com a SBM, a entidade desenvolveu o documento técnico que estabelecesse diretrizes clínicas, parâmetros para a estrutura assistencial, orientações para o planejamento do processo terapêutico, entre outros itens indispensáveis.

Sobre a estruturação de centros de testagem no País, o manifesto assinado por SBM e Femama ressalta que o Ministério da Saúde adquiriu equipamentos de última geração para sequenciamento genético. Este maquinário está disponível em laboratórios centrais dos 26 estados brasileiros e do Distrito Federal. A Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) também conta com duas unidades altamente especializadas de diagnóstico. O Unadig (Unidade de Apoio ao Diagnóstico da Covid-19) do Rio de Janeiro e do Ceará dispõem de equipamentos de Biologia Molecular, incluindo os sequenciadores NGS necessários à execução dos testes de BRCA. Além disso, a fundação ainda conta com uma Rede de Plataformas Tecnológicas composta por equipamentos de alta complexidade, com sistemas de genômica e bioinformática capazes de atender instituições públicas e privadas, “demonstrando que o Ministério da Saúde já dispõe de recursos físicos para organizar uma rede de testagem genética em oncologia capaz de atender a demanda nacional”, destaca o manifesto.

“Nossa proposta agora é que exista a federalização da lei que já é realidade em Estados brasileiros”, diz Rosemar Rahal. “Muitas vidas podem ser salvas se a população brasileira tiver acesso ao painel genético de BRCA1 e BRCA2”, completa a mastologista da SBM.

No manifesto, SBM e Femama ressaltam o compromisso e a parceria em colaborar tecnicamente para orientar serviços de saúde em cuidados centrados nos pacientes, “de modo a garantir, efetivamente, a equidade prevista no SUS, a qualidade do percurso assistencial, de forma sustentável, para usuários do sistema público com alto risco de câncer de mama e ovário”.