Maior congresso de mastologia do Brasil traz avanços no enfrentamento do câncer de mama

Maior congresso de mastologia do Brasil traz avanços no enfrentamento do câncer de mama

Em 26ª edição, evento sediado em Porto Alegre (RS) apresenta visões globais com potencial para orientar políticas públicas no Brasil

De 10 a 13 de abril, especialistas brasileiros e estrangeiros participam do 26º Congresso Brasileiro de Mastologia. Organizado pela Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) e SBM Regional Rio Grande do Sul (SBM-RS), o evento sediado em Porto Alegre se consolida nesta edição por congregar as principais autoridades científicas nacionais e internacionais sobre uma visão global no controle do câncer de mama e suas potencialidades na orientação de políticas públicas para o enfrentamento da doença no Brasil.

“O Congresso Brasileiro de Mastologia tornou-se um evento de excelência, em que se discutem os temas mais atualizados da especialidade, tendo como participantes autoridades brasileiras e internacionais”, afirma Tufi Hassan, presidente da SBM. “Nesta edição, especialmente, temos a oportunidade de absorver conhecimentos e informações para nortear nosso trabalho como mastologistas e também políticas públicas nacionais.”

Com a expectativa de reunir mais de 1.500 especialistas, a 26ª edição tem início quarta-feira (10/04) com a Atividade Pré-Congresso. Nos dois painéis organizados pelo IGCC (Instituto de Governança e Controle do Câncer), serão discutidas perspectivas sobre a política nacional de prevenção e controle do câncer de mama e o papel das cidades na prevenção e no controle da doença.

Para a aula magna o convidado é o especialista Ben Anderson. O professor de Cirurgia e Medicina de Saúde Global na Universidade de Washington assinala várias contribuições inestimáveis em seu vasto currículo. Na OMS (Organização Mundial da Saúde), atuou como diretor médico para liderar o Comitê Global sobre Câncer de Mama. Na Atividade Pré-Congresso, em Porto Alegre, Anderson aborda o objetivo compartilhado com atores de todo o mundo na Iniciativa Global contra o Câncer de Mama, da OMS, para reduzir a incidência da doença em 2,5% por ano, que pouparia 2,5 milhões de vida em duas décadas.

Um dos compromissos do 26º Congresso de Mastologia é referendar a “Carta de Porto Alegre”. O documento, que será assinado por autoridades federais, estaduais e municipais na abertura do evento, na próxima quinta-feira (11/04), propõe no contexto de pacto a adoção de soluções para os principais problemas de rastreamento, diagnóstico e tratamento da doença no Brasil. “A ‘Carta de Porto Alegre’, sob a coordenação do mastologista José Luiz Pedrini (membro da Comissão Científica do evento), foi elaborada nos últimos seis meses em parceria com importantes organizações não governamentais. A meta, neste documento, é o avanço no tratamento do câncer de mama no Brasil”, destaca Andréa Damin, presidente do 26º Congresso Brasileiro de Mastologia e da SBM-RS.

Políticas públicas

A lei que cria a Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer (PNPCC), publicada no final de 2023, constitui um marco na luta contra a doença. A legislação surge da força da participação social, no momento em que o câncer é reconhecido como uma das principais causas de morte no Brasil. As mudanças trazidas pela lei e os seus impactos na saúde da população brasileira também serão abordadas no 26º Congresso Brasileiro de Mastologia.

“Nós, da SBM, estamos decididos a contribuir para a diminuição dos casos avançados de câncer de mama no Brasil e, por conseguinte, reduzir a mortalidade por esta doença”, afirma a mastologista Sandra Gioia, presidente do Departamento de Políticas Públicas da SBM. “Para nortear nossas ações, contamos com metas e indicadores globais.”

As principais diretrizes da PNPCC incluem o fortalecimento da prevenção, diagnóstico precoce, tratamento de qualidade e suporte integral aos pacientes e familiares. Nos próximos passos, a abordagem será pela implementação efetiva dessas instruções, o aumento do acesso aos serviços de saúde, a promoção de campanhas de conscientização e o investimento em pesquisa e inovação.

“No contexto da nova lei, o congresso é uma oportunidade para compartilharmos vários casos de sucesso implementados no Brasil com representantes da OMS, do Ministério da Saúde, da sociedade civil e com gestores de Saúde do Rio Grande do Sul”, destaca Sandra.

No curso pré-congresso, os organizadores programam uma sessão científica inteiramente voltada a discutir aspectos de saúde pública. “Nesta atividade, teremos a participação do diretor geral do INCA (Instituto Nacional de Câncer), Roberto Gil, e do coordenador-geral de Políticas Nacionais de Prevenção e Controle do Câncer do Ministério da Saúde, Fernando Maia. Também contaremos com Fernando Ritter, secretário de Saúde de Porto Alegre, e Arita Bergmann, secretária de Saúde do Estado do Rio Grande do Sul”, completa a presidente da SBM-RS, Andréa Damin.

Contribuições mundiais

Para Andréa Damin, o 26º Congresso Brasileiro de Mastologia se configura como “um momento único para vivenciar os maiores avanços científicos na especialidade”.

Entre os participantes do evento, a presidente da SBM-RS destaca Monica Morrow, chefe do Departamento de Cirurgia Mamária do Sloan Kattering Cancer Center de Nova York. “Uma das maiores pesquisadoras da doença no mundo, tem revolucionado conceitos na área de cirurgia. Ela vai discutir em profundidade a cirurgia axilar no câncer de mama.”

Terry Mamounas, diretor médico da Divisão de Câncer de Mama do Complexo de Saúde de Orlando, Flórida, também é presença confirmada no evento. Coordenador de grandes estudos na área da terapia adjuvante hormonal, o especialista vai abordar novos aspectos do tratamento adjuvante.

A presidente da SBM-RS destaca também a contribuição de Michele Pilewski, professora de Cirurgia Mamária na Universidade de Michigan, “com grande experiência nas áreas de cirurgia e prevenção do câncer de mama”.

Além dos pesquisadores que atuam nos Estados Unidos, o congresso conta com a participação de Benigno Acea, chefe da Divisão de Cirurgia Mamária do Hospital Universitário de La Coruña, Espanha, com contribuições relevantes na área de oncoplastia.

26º Congresso Brasileiro de Mastologia
10 a 13 de abril
Centro de eventos do BarraShoppingSul
Av. Diário de Notícias, 300, Cristal – Porto Alegre (RS)
Informações e inscrições: www.mastologia2024.com.br


Plena implementação de testes genéticos para câncer de mama no SUS contribui para salvar vidas no Brasil

Plena implementação de testes genéticos para câncer de mama no SUS contribui para salvar vidas no Brasil

Realidade no Estado de Goiás, a aplicação do exame em todo o território nacional é a meta da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM)

Os casos de câncer associados a causas hereditárias, caracterizados por uma predisposição familiar e que podem passar de geração para geração, representam cerca de 10% do total dos diagnósticos da doença no Brasil, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca). O caso específico da mutação do gene BRCA traz outra estatística preocupante. De acordo com a médica mastologista Rosemar Rahal, membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Mastologia (SMB), esta alteração representa risco de 80% para desenvolvimento de câncer de mama e de 40% para o de ovário. O exame para Detecção de Mutação Genética dos Genes BRCA1 e BRCA2, custeado pelo SUS, destaca a especialista, é um meio eficiente para identificar a mutação e realizar medidas profiláticas que podem salvar milhares de mulheres. “Embora exista legislação que permite a realização do teste em cinco Estados brasileiros, somente Goiás, de fato, implementou o exame.”

Em Goiás, o exame para Detecção de Mutação Genética dos Genes BRCA1 e BRCA2 em mulheres com histórico familiar de câncer de mama ou de ovário é previsto pela Lei nº 20.707, de 2020. “Desde a promulgação da legislação, todos os esforços da SBM foram pela implantação efetiva deste teste que pode beneficiar uma grande parcela da população”, lembra a mastologista Rosemar Rahal.

A partir da identificação da mutação por meio do exame, medidas profiláticas, como as cirurgias de mastectomia e ooforectomia (retirada dos ovários), impactam diretamente na sobrevida das pacientes. “Hoje, além das cirurgias profiláticas, existem medicamentos específicos para as mulheres com câncer de mama e portadores desta predisposição genética”, afirma.

A partir da assinatura do convênio do governo estadual, em outubro de 2023, com a Universidade Federal de Goiás (UFG), o painel genético para câncer de mama herdado será realizado pelo Centro de Genética Humana do Instituto de Ciências Biológicas da mesma universidade.

O teste, inicialmente, será implementado na Policlínica de Quirinópolis, região Sudoeste de Goiás, expandindo-se posteriormente para a região Centro-Norte, que abrange os municípios de Goianésia e Uruaçu. A meta é disponibilizar o acesso ao exame genético para todo o Estado.

Até agora, além de Goiás, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Distrito Federal e Amazonas dispõem de legislações específicas para Detecção de Mutação Genética dos Genes BRCA1 e BRCA2. Para Rosemar Rahal, a parceria entre o governo de Goiás e a UFG serve de inspiração para o País. “É fundamental que os Estados coloquem, efetivamente, as legislações em prática”, diz.

Em tramitação federal, o Projeto de Lei nº 265/2020 propõe a realização de testes genéticos para prevenção, diagnóstico e tratamento dos cânceres de mama e ovário no âmbito do SUS em todo o País. O direito já assiste as mulheres no sistema suplementar operado pelos planos de saúde desde 2014. “Neste sentido, o convênio também é um estímulo para que o Brasil, como um todo, ofereça o teste para as mulheres”, conclui a representante da Sociedade Brasileira de Mastologia.