Vitamina D no tratamento de câncer de mama traz resultados promissores
Estudo apresentado pela Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) avalia boas respostas a partir da suplementação de vitamina D em pacientes submetidas à quimioterapia neoadjuvante
Medicamento acessível e de baixo custo, a vitamina D é associada a respostas promissoras no tratamento de câncer de mama. É o que demonstra estudo da Faculdade de Medicina da Unesp de Botucatu (SP) apresentado no Brazilian Breast Cancer Symposium (BBCS), em Brasília (DF). A pesquisa envolveu 80 mulheres a partir de 45 anos, diagnosticadas com câncer de mama. Metade das pacientes foi suplementada com vitamina D. As demais receberam placebo. “O grupo que obteve suplementação vitamínica apresentou uma resposta brilhante, em comparação ao que não recebeu”, afirma o mastologista Eduardo Carvalho Pessoa, presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) Regional São Paulo.
A vitamina D é um hormônio essencial para manutenção da saúde óssea, absorção de cálcio e diversas funções essenciais no organismo. Cerca de 80% da vitamina D se forma quando os raios solares entram em contato com a pele. O restante da formação vem dos alimentos. Pelo fato de o Brasil ser um país tropical e ensolarado, imaginava-se que a população não apresentasse deficiência de vitamina D. No entanto, estudos provam o contrário e a hipovitaminose afeta principalmente mulheres na pós-menopausa.
A diretriz clínica da Task Force norte-americana considera deficiência de vitamina D valores inferiores a 20 ng/mL. Acima de 30 ng/mL é indicador de melhor disponibilidade desse hormônio no organismo.
Na Faculdade de Medicina da Unesp, a partir de investigações capitaneadas por Eliana Aguiar Petri Nahas, professora titular do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia, a correlação entre vitamina D em organismos acometidos pelo câncer de mama foram observados em um estudo anterior ao apresentado na BBCS. “Investigamos, primeiramente, os níveis desta vitamina em pacientes na pós-menopausa sem câncer de mama e comparamos com mulheres na mesma condição, porém diagnosticadas com a doença”, lembra Pessoa. “Observamos que o nível basal de vitamina D foi muito menor nas pacientes com câncer do que nas mulheres que não apresentavam este neoplasma maligno. E esta evidência nos motivou a ir além”, diz.
O avanço nas pesquisas se materializou no estudo apresentado pela Sociedade Brasileira de Mastologia à comunidade médica no BBCS. Realizada entre outubro de 2019 e agosto de 2022, a investigação envolveu 80 mulheres com câncer de mama, todas elegíveis para tratamento quimioterápico neoadjuvante, atendidas no Centro de Avaliação em Mastologia da Faculdade de Medicina da Unesp Botucatu. “Progredimos nesta linha de pesquisa investigando pacientes em diferentes tipos da doença: com tumores luminais, HER2 e triplo negativo”, destaca Pessoa.
Metade das mulheres participantes do estudo recebeu suplementação de 2.000 UI de vitamina D. Em outras 40 pacientes foi ministrado placebo. “Recebendo quimioterapia neoadjuvante e suplementação de vitamina D, o primeiro grupo apresentou um retorno brilhante com o tratamento, com resposta patológica completa em comparação ao que contou apenas com a medicação placebo”, diz o especialista. “Se considerarmos que a resposta patológica completa está associada à maior sobrevida livre de doença, temos o importante impacto de uma medicação barata no cenário do câncer de mama”, ressalta.
Para Eduardo Pessoa, os resultados trazidos pela pesquisa abrem grandes possibilidades para novos estudos. “Investigações mais aprofundadas podem confirmar o papel da vitamina D no aumento da taxa de resposta patológica completa, que como sabemos se traduz em maior chance de cura do câncer de mama”, conclui o mastologista da Sociedade Brasileira de Mastologia.
Nova droga é esperança para tratamento de câncer de mama agressivo
Estudo realizado com a participação da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) indica bons resultados para tratar o subtipo HER2-positivo, que responde por 20% dos diagnósticos da doença no mundo
Uma droga promissora no tratamento do câncer de mama metastático HER2-positivo, subtipo agressivo responsável por 20% dos diagnósticos da doença no mundo, surpreendeu cientistas de várias nacionalidades que participaram de um estudo recém-publicado na Nature Medicine. Um dos autores da pesquisa, o mastologista José Luiz Pedrini, diretor da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), afirma se tratar de um avanço importante. “Significa esperança para mulheres diagnosticadas com este subtipo de câncer de mama, e mesmo para as que vivenciam o retorno da doença após o tratamento inicial.”
O estudo “Trastuzumabe deruxtecan versus trastuzumabe emtansine no câncer de mama metastático HER2-positivo: Análise de sobrevida em longo prazo do estudo DESTINY-Breast03”, publicado no início de junho na renomada revista científica Nature Medicine, envolveu pesquisadores dos Estados Unidos, da Espanha, Itália, França, Austrália, China, Coreia do Sul, do Japão e Brasil. Para comprovar os resultados positivos da aplicação da nova droga T-DXd (trastuzumabe deruxtecan), as investigações foram realizadas em diferentes centros de pesquisas mundiais.
Quando em excesso, a HER2, proteína localizada na membrana das células mamárias, promove um crescimento expressivo de células cancerosas. Por esta razão, este subtipo de tumor tende a ser mais agressivo. Antes da descoberta dos subtipos da doença, incluindo HER2-positivo, os casos de câncer de mama tinham praticamente o mesmo tratamento.
Hoje, as alternativas disponíveis para o HER2-positivo preveem cirurgia, radioterapia, quimioterapia e hormonioterapia. Como avanço para tratá-lo, há a chamada terapia-alvo, que inclui o trastuzumabe emtansine (T-DM1), incorporado recentemente ao SUS (Sistema Único de Saúde). De forma geral, a droga promove o bloqueio da ação da proteína HER2, impedindo o estímulo de crescimento das células tumorais.
No estudo publicado na Nature Medicine, os pesquisadores puderam comparar a segurança e a eficácia de dois medicamentos, um deles o T-DM1, e a nova droga T-DXd no tratamento de mulheres com doença avançada do biomarcador HER2-positivo.
O T-DXd já tem aprovação nos Estados Unidos, na União Europeia e no Japão para pacientes com câncer de mama metastático HER2-positivo e é ministrado após a progressão da doença com taxano e trastuzumabe ou em pacientes que desenvolveram recorrência da doença durante o tratamento ou dentro de seis meses de conclusão da terapia neoadjuvante e/ou adjuvante, ou seja, antes ou após a cirurgia de câncer de mama.
No Brasil, sob a condução do mastologista José Luiz Pedrini, as investigações foram realizadas no Hospital Nossa Senhora da Conceição, em Porto Alegre (RS).
“Ao todo, o estudo envolveu 261 pacientes, com idade média de 54 anos, que usaram a nova droga T-DXd, e 263, tratadas com T-DM1”, afirma Pedrini. A investigação revelou que as mulheres submetidas ao tratamento com a nova droga apresentaram maior tempo de sobrevida livre de progressão da doença quando comparadas com as pacientes tratadas com T-DM1 durante todo o período do estudo. “Com o T-DXd foram 29 meses; no T-DM1, 7,2 meses”, destaca.
Os autores também avaliaram a sobrevida livre de progressão em 24, 36 e 48 meses, e os resultados de T-DXd também se mostraram melhores. “Em 24 meses, a sobrevida livre de progressão da doença no grupo T-DXd foi de 55,8% contra 20,6% no grupo T-DM1. Em 36 meses, foram 45,7% para T-DXd e 12,4% para T-DM1. Finalmente, em 48 meses, obtivemos 41,5% com o uso de T-DXd e 9,9% com T-DM1”, compara.
Para o diretor da SBM, que tem a mesma opinião dos cientistas que participaram da investigação, os resultados são surpreendentes. “Justamente porque nunca houve uma diferença de benefício tão grande entre a melhor droga até então e uma nova droga, a T-DXd”, afirma.
As pacientes que participaram da pesquisa fazem uso da nova droga há cinco anos. “De outra forma, não teríamos alternativas de sobreviva”, diz José Luiz Pedrini, que acrescenta: “Será que entramos no caminho do controle de uma doença, que até então era impossível de curar?”
Manifesto é criado para federalização da testagem genética para câncer de mama e ovário no Brasil
No Fórum de Acesso ao Painel Genético em Câncer de Mama, realizado no Brazilian Breast Cancer Symposium (BBCS), em Brasília, Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) e Femama apresentam documento a ser enviado ao Ministério da Saúde com viabilidade da testagem em todo o País
O Instituto Nacional do Câncer (Inca) estima 73.610 novos casos de câncer de mama para cada ano do triênio 2023-2025. No Brasil, a doença tem sido diagnosticada em 42% das pacientes, com aproximadamente 16% de óbitos. Este tipo de neoplasma maligno é a primeira causa de mortalidade entre as mulheres brasileiras. Para o câncer de ovário, segunda neoplasia ginecológica mais comum, a estimativa é de 7.310 novos casos para cada ano do mesmo triênio. Em 2020, o câncer ovariano totalizou 3.920 óbitos, o que representa 3,62 mortes em cada 100 mil pacientes. Entre os fatores aumentados de risco, especialistas destacam a mutação do gene BRCA. De acordo com a Sociedade Brasileira de Mastologia (SMB), esta alteração genética representa até 80% de possibilidade de desenvolvimento de câncer de mama e de 40% para o de ovário. Diante desta realidade, SBM e Femama (Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama) apresentaram no Fórum de Acesso ao Painel Genético em Câncer de Mama do Brazilian Breast Cancer Symposium (BBCS), em Brasília (DF), um manifesto a ser encaminhado ao Ministério da Saúde, acompanhado de um documento (policy paper) com todo o processo de estruturação de testagem genética para detecção de mutações patogênicas e provavelmente patogênicas para pacientes com câncer de mama e ovário e seus familiares no âmbito do SUS (Sistema Único de Saúde).
A testagem genética é recomendada por protocolos internacionais. No sistema suplementar brasileiro, operado pelos planos de saúde, está disponível desde 2014. “Sabemos que em boa parte das pacientes diagnosticadas com câncer de mama e ovário a origem pode ser genética”, afirma o presidente da SBM, Tufi Hassan, no Fórum de Acesso ao Painel Genético em Câncer de Mama do BBCS.
De acordo com Hassan, a testagem nestas mulheres pode beneficiá-las com exames mais precoces, quimioprevenção e cirurgias profiláticas. “É muitíssimo importante que esta testagem seja realidade em todo o País, pois diminuiria custos de tratamento adiante e daria sobrevida a essas pacientes”, diz.
O benefício de prevenção do câncer de mama e ovário hereditários pode impactar significativamente as famílias e a sociedade como um todo, evitando todo o sofrimento advindo do diagnóstico e do tratamento de um câncer.
Embora se destaque a robustez dos benefícios do acesso ao painel genético de BRCA1 e BRCA2 e esteja comprovada a efetividade da detecção de mutações patogênicas nestes genes, a testagem não está disponível no SUS em todo território nacional. Apenas Amazonas (Lei nº 5.404/2021), Goiás (Lei nº 20.707/2020), Minas Gerais (Lei nº 23.449/2019), Rio de Janeiro (Lei nº 7049/2015) e o Distrito Federal (Lei nº 6.733/2020) aprovaram leis que garantem o acesso à testagem genética por meio de seus serviços locais. Somente em Goiás o teste está disponível para toda a população desde fevereiro de 2023, por meio do programa Goiás Todo Rosa.
De acordo com a médica mastologista Rosemar Rahal, membro da diretoria da SBM, o documento (policy paper) apresentado no Fórum de Acesso ao Painel Genético em Câncer de Mama do BBCS norteia todo o processo de estruturação da testagem no Brasil. “Neste documento, que deve ser levado ao Ministério da Saúde, apresentamos números robustos sobre a importância da testagem e consideramos que já temos uma estrutura e maquinário para a realização deste procedimento”, afirma.
Há quatro anos, a Femama trabalha com o Congresso Nacional na concretização do Projeto de Lei nº 265/2020 para incluir a testagem genética no SUS, visando o controle dos cânceres de mama e ovário. Desde o ano passado, em conjunto com a SBM, a entidade desenvolveu o documento técnico que estabelecesse diretrizes clínicas, parâmetros para a estrutura assistencial, orientações para o planejamento do processo terapêutico, entre outros itens indispensáveis.
Sobre a estruturação de centros de testagem no País, o manifesto assinado por SBM e Femama ressalta que o Ministério da Saúde adquiriu equipamentos de última geração para sequenciamento genético. Este maquinário está disponível em laboratórios centrais dos 26 estados brasileiros e do Distrito Federal. A Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) também conta com duas unidades altamente especializadas de diagnóstico. O Unadig (Unidade de Apoio ao Diagnóstico da Covid-19) do Rio de Janeiro e do Ceará dispõem de equipamentos de Biologia Molecular, incluindo os sequenciadores NGS necessários à execução dos testes de BRCA. Além disso, a fundação ainda conta com uma Rede de Plataformas Tecnológicas composta por equipamentos de alta complexidade, com sistemas de genômica e bioinformática capazes de atender instituições públicas e privadas, “demonstrando que o Ministério da Saúde já dispõe de recursos físicos para organizar uma rede de testagem genética em oncologia capaz de atender a demanda nacional”, destaca o manifesto.
“Nossa proposta agora é que exista a federalização da lei que já é realidade em Estados brasileiros”, diz Rosemar Rahal. “Muitas vidas podem ser salvas se a população brasileira tiver acesso ao painel genético de BRCA1 e BRCA2”, completa a mastologista da SBM.
No manifesto, SBM e Femama ressaltam o compromisso e a parceria em colaborar tecnicamente para orientar serviços de saúde em cuidados centrados nos pacientes, “de modo a garantir, efetivamente, a equidade prevista no SUS, a qualidade do percurso assistencial, de forma sustentável, para usuários do sistema público com alto risco de câncer de mama e ovário”.
Evolução do número de casos de câncer de mama exige ações coordenadas
Na audiência pública da Comissão de Saúde da Câmara dos Deputados, em Brasília, Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) defende ampliação do acesso a diagnósticos e aprimoramento nos tratamentos no âmbito do SUS
Para cada ano do triênio 2023-2025, o Instituto Nacional do Câncer (Inca) estima 73.610 novos casos de câncer de mama. De acordo com o Panorama do Câncer de Mama, painel interativo aberto a médicos, gestores e sociedade civil que reúne informações sobre o Sistema Único de Saúde (SUS), em 2022 foram registrados mais de 19 mil óbitos por este tipo de neoplasma maligno, primeira causa de mortalidade entre as mulheres brasileiras. Entre os fatores aumentados de risco, especialistas destacam a mutação do gene BRCA. De acordo com a Sociedade Brasileira de Mastologia (SMB), esta alteração genética representa até 80% de possibilidade de desenvolvimento de câncer de mama e de 40% para o de ovário. Os mastologistas também veem com atenção a tendência ao “rejuvenescimento” do câncer de mama no País. Estes e outros dados, que evidenciam a preocupação com a evolução da doença, foram apresentados no dia 23 de maio, na audiência pública da Comissão de Saúde da Câmara dos Deputados, em Brasília (DF).
Como membro da diretoria da SBM, a mastologista Rosemar Rahal participou da audiência pública para apresentar dados e sugestões no enfrentamento do câncer de mama no Brasil. Entre 2015 e 2022, período de abrangência do Panorama do Câncer de Mama, foram notificados 374.548 novos casos da doença, com os maiores números registrados no Sudeste (168.637), Nordeste (90.640) e Sul (76.834).
O Brasil dispõe de mais de 6 mil aparelhos de mamografia, número suficiente para atender a população-alvo. “No entanto, no SUS nunca passamos de 30% do rastreamento”, destaca a especialista. Como efeito da cobertura mamográfica inadequada, os casos de câncer de mama em estágio avançado são maiores na rede pública em comparação com a saúde suplementar, que inclui os planos de saúde.
Desde a biópsia até o primeiro tratamento, observam-se diferenças entre o SUS e a saúde suplementar. Em até 30 dias, os atendimentos representaram, de acordo com a Sociedade Brasileira de Mastologia, 21,1% no SUS e 45,4% no sistema privado. Entre 30 e 60 dias, o SUS registra 34%; a saúde suplementar, 40%. Acima de 60 dias, foram 44,9% no SUS e 14,6% no sistema privado. Neste sentido, a SBM considera fundamental a aplicação da Lei nº 12.732 de 2012, que determina o início do tratamento no prazo máximo de dois meses.
“Rejuvenescimento”
Segundo o Panorama do Câncer de Mama, na faixa etária de 30 a 49 anos somaram-se 117.984 novos casos da doença, ou 30,5% do total apurado, que inclui também mulheres de 50 a 59 anos e de 60 a 69 anos. “Quando olhamos para esta estatística, constatamos que o ‘rejuvenescimento’ do câncer de mama já é uma realidade no Brasil”, afirma a especialista.
De acordo com Rosemar, é imperativo que o Ministério da Saúde reveja o início do rastreamento da doença e considere a idade mínima a partir de 40 anos, e não aos 50 anos. O Panorama do Câncer de Mama indica que mulheres de 40 a 49 anos tiveram diagnóstico tardio em 39,6% dos casos. A faixa etária considerada de risco (entre 50 e 69 anos) responde por 35,3%.
Testagem genética
Em boa parte das pacientes diagnosticadas com câncer de mama e ovário, a origem pode ser genética. Este grupo pode ser beneficiado com testagem para detecção de mutações patogênicas nos genes BRCA1 e BRCA2. “A partir deste teste, as mulheres poderiam se valer de exames mais precoces, quimioprevenção e cirurgias profiláticas”, afirma a mastologista.
Embora o Ministério da Saúde tenha adquirido equipamentos de última geração para sequenciamento genético, e este maquinário esteja disponível em laboratórios centrais dos 26 estados brasileiros e do Distrito Federal, a testagem não está disponível no SUS em todo território nacional. Apenas Amazonas (Lei nº 5.404/2021), Goiás (Lei nº 20.707/2020), Minas Gerais (Lei nº 23.449/2019), Rio de Janeiro (Lei nº 7049/2015) e o Distrito Federal (Lei nº 6.733/2020) aprovaram leis que garantem o acesso à testagem genética por meio de seus serviços locais. Somente em Goiás o teste está disponível para toda a população desde fevereiro de 2023, por meio do programa Goiás Todo Rosa.
“Nossa proposta é para que exista a federalização da lei”, diz Rosemar Rahal. “Muitas vidas podem ser salvas se a população brasileira tiver acesso ao painel genético de BRCA1 e BRCA2”, completa.
Equiparação
O posicionamento da SBM também é para que haja a equiparação da Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde) com a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) nos métodos diagnósticos e tratamento dos procedimentos aprovados pela Anvisa.
Alguns exames já estão incluídos apenas no rol da ANS: painel genético germinativo, pet-ct oncológico, ressonância magnética de mamas, marcação tumoral pré-quimioterapia, uso de medicina nuclear (radiofármacos) em cirurgia (roll e ls) e biópsia percutânea assistida à vácuo (mamotomia).
Embora estejam incorporados pela Conitec, alguns medicamentos ainda não estão disponíveis no SUS. São eles: trastuzumabe entansina e abemaciclibe/ribociclibe/palbociclibe. A droga pertuzumabe está liberada apenas para doença metastática.
“O benefício da prevenção da doença pode impactar positivamente as famílias e a sociedade como um todo, com diminuição de custos de tratamento”, diz Rosemar Rahal. “A implantação de políticas eficientes, a ampliação do rastreamento, entre outras medidas, são fundamentais para evitar todo o sofrimento para as pacientes e seus familiares, advindo do diagnóstico e do tratamento de um câncer de mama”, conclui a mastologista da SBM.
Cafeína tem potencial para tratamento de câncer de mama agressivo
Estudo apresentado no 26º Congresso Brasileiro de Mastologia, evento organizado pela Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), comprova em laboratório a eficácia da substância para evitar a proliferação de células cancerígenas
Estudo premiado no 26º Congresso Brasileiro de Mastologia comprova a ação antitumoral da cafeína em células de um subtipo de câncer de mama mais agressivo, o triplo-negativo. Segundo o mastologista Marcelo Moreno, que apresentou o trabalho, os resultados obtidos a partir de investigações em laboratório representam uma boa notícia em meio às estratégias de enfrentamento da doença e “autorizam o prosseguimento da pesquisa em outros modelos metodológicos”.
Intitulado “Efeito antiproliferativo da cafeína sobre uma linhagem de câncer de mama triplo-negativo”, o trabalho foi realizado no Programa de Pós-graduação em Ciências Biomédicas da Universidade Federal da Fronteira Sul, no campus Chapecó (SC) e vinculado ao Programa Multicêntrico de Pós-Graduação em Bioquímica e Biologia Molecular da Universidade do Estado de Santa Catarina.
Apresentado na edição recente do Congresso Brasileiro de Mastologia, evento organizado pela Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) e SBM Regional Rio Grande do Sul (SBM-RS), o estudo premiado comparou a ação da cafeína em diferentes concentrações em células de câncer de mama triplo-negativo (linhagens MDA-MD-231) e também em células saudáveis do parênquima mamário.
A classificação “triplo-negativo” define a ausência dos receptores de estrogênio, progesterona e HER2, responsáveis pelo controle do crescimento do tumor, das células mamárias e da divisão celular. Mais incidente em jovens, com menos de 40 anos, também é comum em mulheres que apresentam mutação dos genes hereditários BRCA1 e/ou BRCA2, responsáveis por proteger o corpo do aparecimento de tumores. Ao sofrerem mutação, a função destes genes diminui e as chances de desenvolvimento do câncer aumentam.
Já existe na literatura científica estudos que comprovam, in vitro, os efeitos antitumorais da cafeína. “Mas pesquisas com a metodologia que desenvolvemos e com os resultados que obtivemos ainda não tinham sido divulgadas”, destaca o mastologista.
Ao mesmo tempo em que se preocuparam em avaliar o efeito antiproliferativo da cafeína sobre uma linhagem de câncer de mama triplo-negativo, os pesquisadores, sob a coordenação de Marcelo Moreno, também investigaram o potencial tóxico da substância em células saudáveis.
No estudo in vitro, com materiais adquiridos no Banco de Células do Rio de Janeiro, a cafeína, nas concentrações de 1, 2 e 4 milimolares, “diminuiu a viabilidade das células de câncer de mama triplo-negativo”. Nas células saudáveis, a aplicação da cafeína não representou toxicidade. “Elas mantiveram o crescimento e a reprodução celular”, ressalta o pesquisador.
A aplicação da substância, comumente consumida no café, no cacau e no guaraná, entre outros alimentos, deve agora expandir seu raio de eficácia a partir de novos estudos. A perspectiva, segundo o mastologista Marcelo Moreno, é prosseguir com a pesquisa para que se comprove, também por meio de outros métodos, que a cafeína, ou moléculas similares, possa ser usada de forma combinada com as terapias existentes no tratamento desta forma agressiva de câncer de mama.
Pesquisa busca qualidade de vida para mulheres com câncer de mama triplo-negativo
Estudo com a combinação de três medicamentos para esta forma agressiva de câncer, conduzido por especialistas de várias nacionalidades, tem contribuições da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM)
Estudo realizado com a participação de centros internacionais de pesquisas e contribuições da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) avalia a aplicação combinada de três medicamentos no tratamento de pacientes com câncer de mama metastático triplo-negativo. Agressivo e de rápida evolução, esta forma de câncer apresenta uma taxa de mortalidade de 30% a 40%, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca). “Esta pesquisa, em especial, demonstra a importância de buscar, incessantemente, novas formas de tratamento que prolonguem, com qualidade, a vida de mulheres com câncer de mama”, afirma o mastologista Ruffo Freitas-Junior, assessor especial da SBM que integra o grupo de pesquisadores.
O artigo “Ipatasertibe de primeira linha, atezolizumabe e taxano tripleto para câncer de mama triplo-negativo metastático: resultados clínicos e de biomarcadores” foi publicado pela revista médica Clinical Cancer Research. Além dos brasileiros, participaram pesquisadores dos Estados Unidos, do Peru, México, Reino Unido, da França, Espanha, Ucrânia, Austrália, China, Coreia do Sul, do Japão e de Cingapura.
O estudo envolveu 317 pacientes com câncer de mama triplo-negativo metastático. A classificação “triplo-negativo” define a ausência dos receptores de estrogênio, progesterona e HER2, responsáveis pelo controle do crescimento do tumor, das células mamárias e da divisão celular. Mais incidente em jovens, com menos de 40 anos, também é comum em mulheres que apresentam mutação dos genes hereditários BRCA1 e/ou BRCA2, responsáveis por proteger o corpo do aparecimento de tumores. Ao sofrerem mutação, a função destes genes diminui e as chances de desenvolvimento do câncer aumentam.
Os pesquisadores avaliaram no estudo a utilização em sequência de três medicações: atezolizumabe, ipatasertibe e taxano. O atezolizumabe é uma opção utilizada em imunoterapia. Os taxanos são agentes quimioterápicos ministrados em câncer de mama metastático. O ipatasertibe, por sua vez, age como inibidor de uma importante via metabólica do câncer.
“Para a comunidade em geral, os resultados com a aplicação destes medicamentos não se mostraram tão animadores nas respostas ao tratamento do câncer de mama triplo-negativo metastático”, destaca. “Para os pesquisadores, no entanto, o estudo deu a conhecer aspectos que vão nos orientar em novas pesquisas.”
A comunidade científica e os especialistas em o câncer de mama, ressalta Freitas-Junior, persistem no aprimoramento dos tratamentos. O mastologista da SBM destaca a imunoterapia. Desde 2019, os casos de triplo-negativo no Brasil passaram a contar com a imunoterapia na fase metástica. Combinadas com a quimioterapia, drogas como a atezolizumabe podem reduzir em até 38% a taxa de mortalidade das pacientes e aumentar em 10 meses o tempo de sobrevida.
O especialista também observa no uso de anticorpos monoclonais droga-conjugada (ADCs) “um ganho bastante grande”. Esta estratégia é capaz de atingir certas células tumorais e liberar dentro delas um agente tóxico para combatê-las. Não por acaso, esses medicamentos são conhecidos como “cavalo de Troia”.
“Ainda estamos longe de ter um recurso ideal para parte de nossas pacientes, ainda que se tenha ganhado com as novas formas de tratamento”, afirma Ruffo Freitas-Junior. “Mas toda a pesquisa direcionada ao câncer de mama é incessante e visa ampliar as possibilidades terapêuticas, almejando uma vida com qualidade para as pacientes”, conclui o mastologista da SBM.
Novo estudo aponta as fragilidades do tratamento no câncer de mama
No Brasil, mulheres chefes de família, diagnosticadas com a doença, compõem um grupo severamente impactado em termos sociais e econômicos, indica Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM)
Relatório da Comissão Lancet de Câncer de Mama, estudo internacional realizado por um grupo multidisciplinar de especialistas de vários países, incluindo o Brasil, alerta para a falta de dados e a desigualdade de acesso ao tratamento da doença. Embora a Lancet Commission considere uma diminuição notável na mortalidade por câncer de mama na maioria dos países mais desenvolvidos, o estudo mostra que muitos pacientes em nações menos favorecidas ainda não são tratados adequadamente. “A subnotificação e o real impacto econômico da doença em países de baixa e média rendas, como o Brasil, são pontos frágeis que necessitam de maior atenção para o enfrentamento deste grande problema de saúde pública que é o câncer de mama”, afirma a mastologista Rosemar Rahal, membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Mastologia (SMB).
O estudo da Lancet Commission, divulgado recentemente no Reino Unido, indica que 7,8 milhões de mulheres diagnosticadas com câncer de mama em 2015 estavam vivas no final de 2020. Segundo os participantes do relatório, este é um reflexo do progresso nas investigações e na gestão o câncer, que possibilitaram reduzir em 40% a mortalidade pela doença na maioria dos países desenvolvidos e de maior renda. Ao mesmo tempo, porém, o estudo demonstra que é preciso avançar no rastreamento e tratamento. Também em 2020, 685 mil mulheres morreram em decorrência do câncer.
Um exemplo trazido pelo relatório, e que configura desigualdade, diz respeito aos dados sobre pacientes com câncer de mama metastático. O grupo multidisciplinar da Lancet constata que o número de pessoas em estágio avançado da doença ainda é desconhecido, pois os casos estão subnotificados.
Ao trazer o problema para o cenário nacional, Rosemar Rahal considera que a subnotificação, de forma geral, “não permite um real diagnóstico de dados epidemiológicos, como os de incidência e mortalidade, que são relevantes e norteadores para as estratégias de saúde pública no País”.
Estudo piloto trazido pela Lancet Commission ouviu 606 mulheres que vivem com câncer de mama. Quase todas relataram “problemas físicos ou de bem-estar” relacionados à doença, como perda de emprego. Entre as participantes no estágio inicial do câncer, 27% declararam ter dificuldades financeiras. Entre as que enfrentavam a doença na fase metastática eram 35%.
A mastologista aponta grandes desafios, considerando o impacto social e econômico da doença no Brasil. “O número de lares que têm a mulher como a principal fonte financeira é relevante”, diz. De acordo com levantamento do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), mais da metade dos lares brasileiros (50,9%) é chefiado por mulheres. “Muitas vezes, após o diagnóstico de câncer de mama, a impossibilidade das atividades laborais em subempregos e mesmo a demissão de atividades com vínculo empregatício tornam claras a repercussões econômicas da doença”, diz Rosemar Rahal. Entretanto, ressalta, os números reais desta realidade e o impacto financeiro ainda não foram corretamente mensurados no País. “E aqui incluímos uma situação gravíssima: o abandono do tratamento em decorrência de barreiras sociais e econômicas”, completa.
Para a especialista da SBM, tão importante quanto lançar luz sobre as desigualdades que envolvem o diagnóstico e o tratamento do câncer de mama, é ter uma visão mais abrangente sobre a situação da doença no Brasil. “Somente desta forma teremos como aprimorar as políticas públicas voltadas ao enfrentamento da doença”, conclui Rosemar Rahal.
Maior congresso de mastologia do Brasil traz avanços no enfrentamento do câncer de mama
Em 26ª edição, evento sediado em Porto Alegre (RS) apresenta visões globais com potencial para orientar políticas públicas no Brasil
De 10 a 13 de abril, especialistas brasileiros e estrangeiros participam do 26º Congresso Brasileiro de Mastologia. Organizado pela Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) e SBM Regional Rio Grande do Sul (SBM-RS), o evento sediado em Porto Alegre se consolida nesta edição por congregar as principais autoridades científicas nacionais e internacionais sobre uma visão global no controle do câncer de mama e suas potencialidades na orientação de políticas públicas para o enfrentamento da doença no Brasil.
“O Congresso Brasileiro de Mastologia tornou-se um evento de excelência, em que se discutem os temas mais atualizados da especialidade, tendo como participantes autoridades brasileiras e internacionais”, afirma Tufi Hassan, presidente da SBM. “Nesta edição, especialmente, temos a oportunidade de absorver conhecimentos e informações para nortear nosso trabalho como mastologistas e também políticas públicas nacionais.”
Com a expectativa de reunir mais de 1.500 especialistas, a 26ª edição tem início quarta-feira (10/04) com a Atividade Pré-Congresso. Nos dois painéis organizados pelo IGCC (Instituto de Governança e Controle do Câncer), serão discutidas perspectivas sobre a política nacional de prevenção e controle do câncer de mama e o papel das cidades na prevenção e no controle da doença.
Para a aula magna o convidado é o especialista Ben Anderson. O professor de Cirurgia e Medicina de Saúde Global na Universidade de Washington assinala várias contribuições inestimáveis em seu vasto currículo. Na OMS (Organização Mundial da Saúde), atuou como diretor médico para liderar o Comitê Global sobre Câncer de Mama. Na Atividade Pré-Congresso, em Porto Alegre, Anderson aborda o objetivo compartilhado com atores de todo o mundo na Iniciativa Global contra o Câncer de Mama, da OMS, para reduzir a incidência da doença em 2,5% por ano, que pouparia 2,5 milhões de vida em duas décadas.
Um dos compromissos do 26º Congresso de Mastologia é referendar a “Carta de Porto Alegre”. O documento, que será assinado por autoridades federais, estaduais e municipais na abertura do evento, na próxima quinta-feira (11/04), propõe no contexto de pacto a adoção de soluções para os principais problemas de rastreamento, diagnóstico e tratamento da doença no Brasil. “A ‘Carta de Porto Alegre’, sob a coordenação do mastologista José Luiz Pedrini (membro da Comissão Científica do evento), foi elaborada nos últimos seis meses em parceria com importantes organizações não governamentais. A meta, neste documento, é o avanço no tratamento do câncer de mama no Brasil”, destaca Andréa Damin, presidente do 26º Congresso Brasileiro de Mastologia e da SBM-RS.
Políticas públicas
A lei que cria a Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer (PNPCC), publicada no final de 2023, constitui um marco na luta contra a doença. A legislação surge da força da participação social, no momento em que o câncer é reconhecido como uma das principais causas de morte no Brasil. As mudanças trazidas pela lei e os seus impactos na saúde da população brasileira também serão abordadas no 26º Congresso Brasileiro de Mastologia.
“Nós, da SBM, estamos decididos a contribuir para a diminuição dos casos avançados de câncer de mama no Brasil e, por conseguinte, reduzir a mortalidade por esta doença”, afirma a mastologista Sandra Gioia, presidente do Departamento de Políticas Públicas da SBM. “Para nortear nossas ações, contamos com metas e indicadores globais.”
As principais diretrizes da PNPCC incluem o fortalecimento da prevenção, diagnóstico precoce, tratamento de qualidade e suporte integral aos pacientes e familiares. Nos próximos passos, a abordagem será pela implementação efetiva dessas instruções, o aumento do acesso aos serviços de saúde, a promoção de campanhas de conscientização e o investimento em pesquisa e inovação.
“No contexto da nova lei, o congresso é uma oportunidade para compartilharmos vários casos de sucesso implementados no Brasil com representantes da OMS, do Ministério da Saúde, da sociedade civil e com gestores de Saúde do Rio Grande do Sul”, destaca Sandra.
No curso pré-congresso, os organizadores programam uma sessão científica inteiramente voltada a discutir aspectos de saúde pública. “Nesta atividade, teremos a participação do diretor geral do INCA (Instituto Nacional de Câncer), Roberto Gil, e do coordenador-geral de Políticas Nacionais de Prevenção e Controle do Câncer do Ministério da Saúde, Fernando Maia. Também contaremos com Fernando Ritter, secretário de Saúde de Porto Alegre, e Arita Bergmann, secretária de Saúde do Estado do Rio Grande do Sul”, completa a presidente da SBM-RS, Andréa Damin.
Contribuições mundiais
Para Andréa Damin, o 26º Congresso Brasileiro de Mastologia se configura como “um momento único para vivenciar os maiores avanços científicos na especialidade”.
Entre os participantes do evento, a presidente da SBM-RS destaca Monica Morrow, chefe do Departamento de Cirurgia Mamária do Sloan Kattering Cancer Center de Nova York. “Uma das maiores pesquisadoras da doença no mundo, tem revolucionado conceitos na área de cirurgia. Ela vai discutir em profundidade a cirurgia axilar no câncer de mama.”
Terry Mamounas, diretor médico da Divisão de Câncer de Mama do Complexo de Saúde de Orlando, Flórida, também é presença confirmada no evento. Coordenador de grandes estudos na área da terapia adjuvante hormonal, o especialista vai abordar novos aspectos do tratamento adjuvante.
A presidente da SBM-RS destaca também a contribuição de Michele Pilewski, professora de Cirurgia Mamária na Universidade de Michigan, “com grande experiência nas áreas de cirurgia e prevenção do câncer de mama”.
Além dos pesquisadores que atuam nos Estados Unidos, o congresso conta com a participação de Benigno Acea, chefe da Divisão de Cirurgia Mamária do Hospital Universitário de La Coruña, Espanha, com contribuições relevantes na área de oncoplastia.
26º Congresso Brasileiro de Mastologia
10 a 13 de abril
Centro de eventos do BarraShoppingSul
Av. Diário de Notícias, 300, Cristal – Porto Alegre (RS)
Informações e inscrições: www.mastologia2024.com.br
Vacinas que protegem os pacientes com câncer
Com a disseminação de diferentes vírus respiratórios no outono, Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) destaca os imunizantes que devem ser priorizados nos casos da doença
O boletim InfoGripe, divulgado no final de março pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), indica aumento de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave entre crianças, jovens e adultos. A situação comum a todas as regiões brasileiras decorre da disseminação de diferentes vírus respiratórios, como influenza, causador da gripe, vírus sincicial respiratório (VSR) e rinovírus. A Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) avalia este quadro com preocupação. “Em pacientes com câncer, o risco de hospitalização por influenza quadruplica em relação à população geral. No caso de pneumonia, a probabilidade de desenvolvimento da forma invasiva da doença é ainda maior”, afirma o mastologista André Mattar, tesoureiro adjunto e membro do Departamento de Tratamento Sistêmico da SBM. A recomendação do especialista para quem recebeu o diagnóstico de câncer é vacinar-se.
Com melhores respostas ao tratamento do câncer de mama ao longo dos anos, outras infecções passaram a preocupar os mastologistas. “Entre as que chamam a atenção, estão a influenza e a pneumonia”, diz André Mattar. Além de reduzir o risco de hospitalização, quatro vezes maior se comparado a mulheres que não têm câncer, a vacina contra o vírus da gripe proporciona redução de mortalidade em quase 60%. “Nos casos de pneumonia, a propensão de desenvolver a forma invasiva da doença aumenta de 12 a 50 vezes entre pacientes oncológicos”, destaca.
Os imunizantes contra influenza e pneumonia fazem parte do rol das chamadas vacinas inativadas. Hepatite A e B, HPV, Herpes Zóster, Tétano, Coqueluche, Vírus Sincicial Respiratório, entre outras, compõem este grupo. Atualmente, todas as vacinas disponíveis contra Covid-19 também são inativadas. “Para as mulheres com câncer de mama, o ideal é utilizar estas vacinas 30 dias antes do início da quimio, ou três meses após o término da quimio ou da radioterapia”, diz. No entanto, se houver necessidade, o especialista pode recomendar a aplicação mesmo durante a quimioterapia. “Sabemos que a resposta vacinal é inferior em pacientes com câncer, mas o risco de complicações por outras doenças precisa ser avaliado.”
Todas as vacinas são indicadas para quem trata um câncer? “Nem todas”, enfatiza Mattar. Vacinas de bactéria ou que têm o vírus vivo atenuado não são recomendadas. Neste grupo estão incluídas BCG, Pólio oral (VOP), Varicela, Tríplice viral, contra sarampo, caxumba e rubéola, Tetraviral, que além das três doenças acrescenta a varicela, e Febre Amarela. Também o imunizante contra a Dengue deve ser evitado. “Estas vacinas são contraindicadas para pessoas imunodeprimidas, como é o caso dos pacientes oncológicos”, ressalta.
As situações que permitem a aplicação das vacinas de bactéria ou vírus vivo atenuado se restringem a quem ainda não iniciou o tratamento do câncer. “Idealmente, devem ser ministradas até 30 dias antes do início do tratamento imunossupressor. Se não aplicados antes, o paciente pode receber os imunizantes três meses depois do término da quimio ou da radioterapia, desde que o câncer esteja em remissão e a pessoa sem grave imunocomprometimento”, diz o mastologista.
De acordo com André Mattar, é importante que as pessoas diagnosticadas com câncer ou que já estejam em tratamento da doença procurem os Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE). Estabelecidos em 1993, os CRIE integram o SUS (Sistema Único de Saúde) em todos os Estados brasileiros, incluindo o Distrito Federal. Estes centros contam com infectologistas para orientar a população e permitem acesso às vacinas a pacientes imunodeprimidos ou não.
“Especialmente neste período do ano, em que há uma prevalência de doenças respiratórias, nunca é demais recomendar que a população brasileira se vacine. A prescrição de imunizantes contra influenza e pneumonia deve ser avaliada como uma proteção a pessoas com diagnóstico de câncer”, conclui o especialista da SBM.
Tomossíntese representa economia de R$ 400 milhões para os planos de saúde no prazo de 5 anos
Estudo realizado pela Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), com o apoio de várias entidades, também demonstra a efetividade do exame conhecido como ‘mamografia 3D’ para aumentar a taxa de detecção de câncer de mama
A tomossíntese digital mamária representa 90% das mamografias realizadas nos Estados Unidos. Na relação custo-efetividade, o exame demonstrou ser custo efetivo em diversos países da Europa. As pacientes com mamas que apresentam densidades fibroglandulares esparsas e heterogeneamente densas (padrões mamários B e C do ACR BI-RADS) representam 70% da população em rastreamento acima dos 40 anos. Caso fosse incorporada como rotina no rastreamento do câncer de mama dessas pacientes na rede suplementar de saúde brasileira, a tomossíntese representaria em 5 anos uma economia de R$ 400 milhões para os planos de saúde. É o que mostra um estudo inédito realizado pela Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), com o apoio do Colégio Brasileiro de Radiologia (CBR) e da Federação Brasileira das Associações de Ginecologistas e Obstetras (Febrasgo). Da mesma forma que a mamografia, a tomossíntese é um método de imagem, mas com visualização detalhada em cortes de um milímetro de espessuara da mama, semelhante ao da tomografia computadorizada. Também chamado de “mamografia 3D”, o exame aumenta a taxa de detecção de carcinomas invasivos em até 40%.
O artigo “Análise de custo-efetividade da tomossíntese associada à mamografia sintetizada no rastreamento do câncer de mama na saúde complementar do Brasil”, que demonstra o potencial benefício clínico e econômico da adoção da “mamografia 3D” no rastreamento do câncer de mama na saúde suplementar brasileira em mulheres entre 40 e 69 anos com mamas de densidades fibroglandulares esparsas e heterogeneamente densas, foi publicado recentemente pela PharmacoEconomics, uma das principais revistas de avaliações econômicas em saúde do mundo.
O estudo liderado pelo mastologista Henrique Lima Couto, coordenador do Departamento de Imagem da Mama da SBM, destaca que a incorporação rotineira da tomossíntese pelo sistema suplementar representaria, em 5 anos, uma economia de R$ 400 milhões para os planos de saúde. “Este recurso poderia ser aplicado na adoção de novas tecnologias, medicações, aumento da cobertura e melhoramento do sistema de saúde complementar no combate do câncer de mama”, afirma o especialista.
A tomossíntese, na definição de Lima Couto, é a evolução da mamografia. “A mamografia é um raio X especializado em que se vê a mama em duas incidências (duas radiografias) de forma estática”, explica. A tomossíntese, como método de imagem, mas com tecnologia avançada, permite visualizar a mama tridimensionalmente, com imagens de um milímetro de espessura reconstruídas em um processo semelhante ao da tomografia computadorizada.
Na mamografia convencional, observa o especialista da SBM, as imagens, por vezes, aparecem sobrepostas, diminuindo a capacidade de detectar o câncer, principalmente nas mamas menos gordurosas. “Ao diminuir esta sobreposição, há aumento da taxa de detecção do tumor em até 40%, o que representa redução dos números de exames inconclusivos e biópsias, aumento dos diagnósticos precoces e diminuição do impacto e do tratamento mutilador e agressivo dos estágios mais avançados”, pontua.
A tomossíntese associada à mamografia sintética, como mostra o estudo publicado na revista PharmacoEconomics, é a tomografia da mama que depois produz uma imagem em 2D. “Então, a paciente tem ao mesmo tempo uma mamografia em 3D e uma mamografia bidimensional em 2D com apenas uma sessão de exposição à radiação”, explica Lima Couto. “Isso permite que o médico tenha alta qualidade de imagem, altas taxas de detecção, mas expondo a paciente à radiação padrão, dentro dos limites de qualidade definidos pela ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar)”, completa.
O grupo mulheres assintomáticas, de 40 a 69 anos, com mamas de densidades fibroglandulares esparsas ou heterogeneamente densas, público-alvo no estudo da SBM para a tomossíntese representa 70% da população feminina elegível para rastreamento do câncer de mama. “Hoje, as pacientes atendidas por planos de saúde precisam pagar para realizar o exame”, destaca o mastologista.
A avaliação econômica demonstrada pelo levantamento da Sociedade Brasileira de Mastologia alinha-se com estudos realizados por outros países desde 2016 que atestam a relação custo-efetividade da tomossíntese no rastreamento do câncer de mama. “Se incorporada pela ANS para cobertura obrigatória pelos planos de saúde, o exame vai proporcionar um grande avanço para as mulheres e possibilitar que elas tenham acesso as melhores práticas, conforme as mais importantes entidades médicas da área no mundo, como o Colégio Americano de Cirurgiões de Mama (ASBS), o Colégio Americano de Radiologistas (ACR) e o Grupo de Trabalho Americano em Câncer (NCCN)”, conclui o mastologista Henrique Lima Couto.